Autor de mais de oitenta livros e quatro mil artigos em jornais, o ensaísta britânico Gilbert Keith Chesterton, conhecido como G. K. Chesterton, (1874-1936) afirmava, com impressionante rigor: “há grandes homens que fazem com que todos se sintam pequenos. Mas o verdadeiro grande homem é aquele que faz com que todos se sintam grandes”. O que assombra Junão, muito mais que os escândalos de seu próprio governo, é o amor incondicional dos guairenses ao filho de Dona Edna. O bom moço forjado na fina educação dos Coscrato Lelis especializou-se, ao longo da vida, em fazer com que todos se sintam grandes. Já Junão, como se sabe de longa data, sempre teimou em fazer com que todos se sintam pequenos. Essa é, acima de qualquer outra que se possa imaginar, a diferença sacrossanta que vai definir o resultado do Duelo de Titãs.
“QUANDO OLHAM PARA MIM VÊEM O QUE SÃO; QUANDO OLHAM PARA VOCÊ, VÊEM O QUE GOSTARIAM DE SER”
O abismo de empatia que separa José Eduardo de Junão faz-me lembrar da antológica cena de “Nixon”, filme de 1995 de Oliver Stone; quando Anthony Hopkins, interpretando o presidente que renunciaria por conta do escândalo de Watergate, olha para um quadro de Kennedy, na Casa Branca, e balbucia, como se estivesse falando com o antecessor assassinado em 1963: “quando olham para mim as pessoas vêem o que são, quando olham para você, vêem o que gostariam de ser”. Sim, quando olham para Junão, as pessoas vêem, no máximo, o que elas são, com seus defeitos, mesquinharias e lados “obscuros”. Quando olham para José Eduardo, as pessoas vêem o que gostariam de ser. Conciliadoras, leais, amorosas, educadas e incapazes de abandonar amigos à deriva em mares revoltos. O ser humano, na condição de eleitor, vota com o coração, vota em quem gostaria de ser e não em quem o faz lembrar o que realmente é.
O TRAVESSEIRO ENSANGUENTADO DE LINCOLN, A CHAMA ETERNA DE KENNEDY , O ESQUIFE DE BONAPARTE E O MONUMENTO A CHURCHILL
Este que vos escreve tem uma fascinação inescapável pela história do poder, pela história dos homens públicos que, por seu papel transformador, eternizaram-se no imaginário da humanidade. É assim que em Washington (DC), para onde viajei mais de uma vez, muito além dos monumentos históricos, fiz absoluta questão de visitar o Teatro Ford, onde Lincoln foi baleado na cabeça. Lá conheci a arma que o matou e, atravessando a rua, na casa para onde o presidente foi levado, agonizante, depois do atentado; pude olhar fixamente para o travesseiro ensanguentado onde repousou sua cabeça até o momento da morte , horas depois do tiro na nuca, disparado por um artista obscuro, inconformado com o fim da escravidão promovido por Lincoln. Também em Washington, conheço a Casa Branca e especialmente o cemitério de Arlington, onde está sepultado o presidente John Kennedy. Diante de sua sepultura, ornamentada com uma pira “eterna”, cuja chama nunca apaga, pude “sentir “a história e entender porque a política tenta dobrar e colocar de joelhos aqueles que desafiam o estado das coisas. Em Londres, um dos primeiros lugares que fui assim que cheguei foi a Praça do Parlamento, próximo ao Big Ben, para fitar, durante longos minutos, a estátua em homenagem a Churchill, o primeiro-ministro que fez a Inglaterra resistir bravamente aos bombardeios de Hitler durante a Segunda Guerra. Em Paris, me emocionei ao descer, sozinho, as escadarias que levam, no Museu dos Inválidos, à monumental tumba de Napoleão Bonaparte. Ao ficar a poucos metros da enorme urna em formato de arca que guarda os despojos mortais do soberano francês pude entender, com precisão, como a história reconhece o valor dos homens capazes de fazer com que todos se sintam grandes. Diante de experiências assim é possível formular a pergunta que qualquer guairense, do fundo de sua alma e longe de interesses imediatos, é capaz de responder: entre o amor a José Eduardo e medo a Junão, o que faria melhor ao seu coração?
Na imagem, inteligência artificial mostra José Eduardo como Napoleão Bonaparte voltando às ruas de Paris, nos braços do povo, para reassumir o poder depois de ser arrancado do trono e exilado na ilha de Elba, na costa da França. O exílio de José Eduardo pode estar chegando ao fim. E mesmo com todo o dinheiro da coroa sendo torrado a toque de caixa com “panem et circenses”, no fundo há muito pouco que Junão possa fazer. Afinal, até as piores notícias sempre foram melhores com José Eduardo.