Alguém já disse que os vices são como ciprestes, só crescem ao redor de túmulos. Junão, montado, de um lado sobre sua megalomania, e assombrado, de outro, pela insegurança em enfrentar José Eduardo; não quer terminar como uma lápide. Custe o que custar. Ainda que seja o papel tragicômico de “Oompa Loompa” que reservou, na medida, para seu vice, José Carlos Soares. Aquele que um dia, entre outras coisas, também foi seu amigo. Como se sabe por meio da obra-prima da literatura e do cinema “Willy Wonka and the Chocolate Factory” (título original em inglês), os “Oompas Loompas” são aqueles anõezinhos que trabalham na fábrica do “Senhor Wonka” cantarolando “oompa loompa doompety doo...ommpa loompa doompety dee”. Assim como no filme que todos nós já assistimos pelo menos uma vez na vida (do original de 1971, passando pelo remake de 2005 até chegar à excelente spin-off de agora) os Oompas Loompas, apesar de “fofinhos” e “divertidos” não passam, ao fim e ao cabo, de escadas para o brilho dos protagonistas. Secundários na história, eles ficam restritos ao ridículo divertido e tragicômico de suas dancinhas. A situação do vice-prefeito de Guaíra (SP), terra natal deste colunista , diz muito sobre o modus operandi de Antonio Manoel.
MENOS IMPORTANTE DO QUE A PRÓPRIA CHEFE DE GABINETE
Para quem imaginava que iria “implementar na terra natal as boas práticas de governança pública adotadas nos altos escalões do Banco do Brasil”, José Carlos Soares aceitou muito fácil o indigno papel de coadjuvante menos importante até mesmo do que a própria chefe de gabinete do governo-tampão . Sim, Soares tem uma história de sucesso no Banco do Brasil. A gorda aposentadoria da qual desfruta vem de uma carreira bem-sucedida como executivo da instituição financeira. Uma carreira que Soares exibiu, ainda em 2020, como predicado a dotá-lo das melhores condições para governar a cidade. Naquele ano, com um apoio “bate e assopra” do próprio Junão, seu “amigo” de boemia fora da política, foi o último colocado na disputa em que José Eduardo tornou-se o primeiro prefeito reeleito da história da cidade. Depois de romper e reatar, mais de uma vez, com o “amigão” Junão (durante a companha de 2020 Antonio Manoel, ao sabor de seus próprios interesses, abandonou Soares aos leões para depois, no final – já era tarde – reativar o modo apoiador), José Carlos conseguiu se enfiar como vice do filho de Dona Eliza na chapa vencedora das suplementares de 2021. Estava “redimido”. Mal sabia ele que não conseguiria, como vice-prefeito, sequer “brotar” como um cipreste, sim aquela conífera que só cresce ao redor de jazigos
“SÉRGIO, PRECISAMOS CONVERSAR EM JANEIRO”
Oompa Loompa não está satisfeito. Isso é óbvio. Mas a julgar por seu histórico de subserviência a Junão, ainda não se sabe se a coisa é séria ou não passa de mais uma birrinha que qualquer chupeta resolve. Alguns movimentos, no entanto, mostram que a humilhação, até mesmo para o Sancho Pança da cavalaria manoelista (que me perdoe Miguel de Cervantes) tem limite. Não faz muito tempo, durante uma rápida conversa no portão da casa de Sérgio de Mello, que fica quase em frente à sua, Soares disparou, sem a menor cerimônia: “Sérgio, precisamos sentar em janeiro”. Ooompa Loompa, que em 2020, recebeu o petista em sua casa mas recusou o apoio dos “vermelhos” guairenses, parece, na alvorada de 2024, estar mudando de estação ao reconsiderar uma hipotética e inesperada união com Mello.
EFEITO “JEANETE BARINI”
A política, seja ela nacional ou provincial ensina, ao longo dos tempos, que o relacionamento de vices e titulares quase sempre são histórias esperando para acabarem mal. Collor e Itamar, Dilma e Temer, Sérgio de Mello e Aloízio e por aí vai. Em Guaíra, o mais clássico dos exemplos é o “Efeito Jeanete Barini”. Durante o governo Claúdio Armani (1997-2000), sua vice, a petista Jeanete Barini (falecida em 2018), iniciou o primeiro ano de mandato tentando fazer valer a promessa de governo “participativo” propalada nos palanques daquela época. Jeanete, para desespero de Armani, exigiu despachar na sala do chefe do executivo, ao lado do próprio prefeito. Não durou um trimestre até que Armani expulsasse a vice-prefeita de seu gabinete levando ao prematuro rompimento do Partido dos Trabalhadores com o governo que ajudara eleger. O efeito “Jeanete Barini” pode estar alcançando os brios de Oompa Loompa. José Carlos Soares emite sinais de estar farto do papel ornamental, de “vaso da Dinastia Ming” a decorar as escadarias do Paço Municipal “Messias Cândido Faleiros”.
CVV DOS HUMILHADOS
A ainda incerta “sentada” de Sérgio de Mello e José Carlos Soares no mês que vem seria, sobretudo, uma espécie de CVV (Centro de Valorização da Vida) sobre destino e dignidade. Em certa medida, por razões já reveladas aqui e também no podcast “Por trás das cortinas”, tanto Sérgio quanto Soares foram humilhados, seguidas vezes, por Antonio Manoel. Soares, executivo de sucesso e ex-candidato a prefeito, como figurante resignado, um “Oompa Loompa” de um governo que se pretende “divisor de águas”. Mello, prefeito por duas vezes, como capacho dócil das vontades de um impostor e satisfeito, pasmem, com o carinho de pequenas sinecuras como cargos subalternos na estrutura administrativa. Soares e Mello, como se sabe por seus cabelos brancos, não nasceram ontem. Soares foi alto executivo de uma das maiores instituições financeiras do Brasil, tem uma aposentadoria espetacular que o torna independente de quem quer que seja e até 2020, como candidato majoritário, tinha Junão como apoiador; ou seja, Antonio Manoel não passava de uma claque cheia de dinheiro que orbitava ao seu redor. Mello chegou ao maior cargo executivo do município com votações históricas. Foi eleito prefeito duas vezes , em épocas diferentes, sempre derrotando o establishment da cidade. Na última, em 2012, obteve mais de 12 mil votos, 4 mil a mais que Junão em 2021. O que, diabos, faz com que os dois ainda se sujeitem, sem a menor vergonha , ao papel de lacaios da vontade de Junão?
NO MÁXIMO, A CASCA DO CACAU
Eu não devia, mas vou ajudar. O que José Carlos Soares e Sérgio de Mello precisam entender, para o bem de suas próprias biografias, é que na “Fantástica Fábrica de Chocolate de Junão” eles sempre ficarão, no máximo, com a casca do cacau. Nada além disso. “Oompa loompa doompety doo...ommpa loompa doompety dee”.
WONKA E OOMPA LOOMPA
Na imagem deste post, inteligência artificial mostra Junão como “Wonka”, dono da fábrica de chocolates; e José Carlos Soares, seu vice, como um “Oompa Loompa” estilizado. Ao lado do ególatra Junão, Soares jamais vai passar da condição de coadjuvante fofinho, que todo mundo acha engraçado mas ninguém respeita.