BRASÍLIA-DF (3 de dezembro de 2023) - Em 2021, nas suplementares que vieram após o golpe do “9 de Dezembro-O Dia que nunca terminou”, Sérgio Mello, prefeito progressista da cidade por duas vezes (2005-2008 e 2013-2016), votou em Junão. Sem nunca ter admitido isso, o apoio “branco” do PT ao milionário loteador previa a nomeação de petistas e ex-petistas para postos no governo-tampão do filho de Dona Eliza. Antonio Manoel, oportunista como qualquer empresário em busca do lucro fácil, passou mel na boca de Mello cumprindo com o acordo. Instalou petistas em seu governo. Estava, com aquelas sinecuras baratas, amansando um ex-prefeito que teve muito mais votos do que ele e que nunca precisou se aproveitar de golpes institucionais para chegar ao poder. Sim, Sérgio de Mello, o homem que derrotou Kito Pugliesi em 2004 quase levando o irmão de Mininiho à falência e , oito anos depois, derrubou José Carlos Augusto em 2012 (já orientado por este marqueteiro que vos fala) obtendo mais de 12 mil votos; entregava seus anéis para um Junão de 8 mil votos em troca de carguinhos para “companheiros” e, mais do que isso, em troca de uma visibilidade que havia perdido desde a crise dos dois últimos anos do breve Governo Dilma 2. O acordo faustiano custou muito caro a Sérgio de Mello que, apesar de afirmar que não é inocente, caiu, como um patinho deslumbrado, no conto do “Vigário Manoel”. Ontem, com pompa e circunstância e com a presença do governador bolsonarista Tarcísio de Freitas, Junão, o “puro”, entregou casas populares batendo no peito orgulhso por sua “realização”, pendurado na área escrotal de Jair Bolsonaro, o inelegível; e só faltando lascar um beijo na boca do mandatário paulista que tem se notabilizado, entre outras coisas, por proteger policiais assassinos. Tivesse lido “Faust”, o poema trágico do escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe, Sérgio teria aprendido, com uma obra publicada ainda lá atrás, no século XIX, que pactos com o demônio costumam custar muito mais do que aparentam. O dado concreto é que não se fosse Sérgio de Mello, Junão não teria entregue nenhum tijolo das casas populares anunciadas como “obra sua”. A desonestidade intelectual do circo de ontem não contou a verdade para os guairenses. Mas eu conto.
JUNÃO TEVE ORGASMOS MÚLTIPLOS USANDO O APARELHO REPRODUTOR DE SÉRGIO DE MELLO
Nenhum grupo político de Guaíra, incluindo a alquebrada confraria vermelha de Sérgio de Mello, está livre do populismo habitacional. Quando prometeu entregar 1.000 casas populares na vitoriosa campanha de 2012 (repito, coordenada por este que vos escreve), Sérgio sabia que estava cometendo estelionato eleitoral. Ele não conseguiria erguer casas na quantidade prometida mas , é preciso reconhecer, lutou como pôde para estruturar o caminho habitacional. E foi, dessa luta pessoal por “honrar” pelo menos parte de uma promessa que sabia que era impossível de cumprir na íntegra, que Mello estruturou , ponto a ponto, todo o caminho que desaguou ontem na “carteirada” de Junão. Sérgio fez tudo. Junão só entregou. Em metáforas anatômicas, pode-se afirmar, numa visão urológica da coisa, por assim dizer, que ontem Junão teve orgasmos múltiplos com Tarcísio e Bolsonaro usando o aparelho reprodutor de Sérgio de Mello. É o que mostra a verdade ululante logo a seguir.
ÁREA, SONDAGENS, LICENÇAS,PROJETOS, REGISTROS E DOAÇÃO DE LOTES. FOI TUDO SÉRGIO QUEM FEZ
O conjunto habitacional entregue ontem em meio a um show de desonestidade intelectual não teve uma medida estruturante que não tenha sido adotada e concretizada por Sérgio de Mello lá atrás, ainda durante seu segundo mandato. Anote aí para você, como tantos, não passar recibo de idiota: Sérgio de Mello comprou a área, fez as sondagens técnicas do solo, obteve todas as licenças ambientais, desenvolveu todos os projetos arquitetônicos do loteamento, obteve a aprovação junto ao Graprohab, registrou e individualizou as matrículas no Cartório de Imóveis e por fim, doou os 232 lotes para a CDHU. Aí, apareceu Junão, sete anos depois, foi ao freezer, descongelou a receita preparada nos mínimos detalhes por Mello e serviu o bolo, “quentinho”. Tá gostoso?
A GALINHA, A RAPOSA E A ÁGUIA
Sérgio compareceu ontem à pantomima popularesca da entrega das casas. Em uma nota distribuída horas depois, no começo da noite, no grupo de de whatsapp do diretório municipal do PT, disse que foi ao evento como “convidado geral” pois “se sentiu no direito”. Disse mais, lá pelas tantas da nota: “não sou ingênuo e jamais esperaria que me chamassem para compor a mesa ou fazer uso da palavra, mas um mínimo de bom senso e honestidade intelectual seriam bem-vindos diante da presença de alguém que foi responsável por 100% das ações que dependiam da prefeitura para que o empreendimento habitacional acontecesse”... Tarde demais, cara pálida. Apesar de toda sua experiência, Mello não foi capaz de ter mais Goethe e menos Manoel em sua compreensão da vida política como ela é. Talvez agora, depois de mais este tapa na cara, tenha aprendido a lição para resgatar o que já deveria ter aprendido na obra de Leonardo Boff. No lugar de uma Águia que já foi por duas históricas vezes, Mello escolheu, no ensaio de seu retorno à ribalta, se sujeitar a ser a galinha num habitat de raposas. Deu no que deu.
Na imagem, inteligência artificial cria um animal alado, uma águia com cabeça de raposa. Num cenário de rapina, onde sobram predadores, Sérgio de Mello achou que poderia ensaiar sua volta nas penas de uma galinha.
Conrado Vitali,54, guairense radicado em Brasília (DF) desde 1998, é jornalista e political marketer, tendo sido vitorioso em várias campanhas eleitorais que coordenou em sua terra natal (Guaíra-SP)