A política é um continente de aparências. Tudo parece mas no fundo não é. Às vezes nem fundo é. A verdade tenta se esconder atrás das cortinas mas o diabo é que as tais, curtas desde sempre, não conseguem esconder os pés dos “mocozados”. O pior da coisa toda é que eles acreditam mesmo que a camuflagem funciona. É um circo. Repleto de malabarismos e sem nenhuma rede de proteção. Algo que o escritor e memorialista francês François La Rochefoucauld definia como “aparências do mérito”. Dizia ele, desnudando quem já estava sem roupa: “o mundo recompensa com mais frequência as aparências do mérito do que o próprio mérito”. É assim que o ex-prefeito Sérgio de Mello (2005-2008 e 2013-2016) negou à coluna “tese” aqui levantada de que o PT guairense teria abraçado o Governo Junão num acordo “secreto” de concessão de cargos combinado à época das eleições suplementares de 2021. Na tentativa de parecer sincero, já que o mundo “recompensa com mais frequência” as aparências do mérito, Mello publicou em suas plataformas e aqui mesmo, em resposta às “especulações” deste escriba, uma cordilheira de nomes vermelhos, carimbados ou não (pouco importa) com a formalidade da ficha de filiação ao Partido dos Trabalhadores; que integrariam o Governo Junão apenas e tão somente por decisão do próprio Antonio Manoel e articulação da primeira-ministra (digo, chefe de gabinete) Marizete Manfrim, ela mesma ungida, “quando não era ninguém”, na pia batismal do petismo. Vejamos.
ARGUMENTOS ATROPELADOS POR FATOS, CARGOS E NOMEAÇÕES
Lá pelas tantas, entre uma corda bamba sob os pés e pratos no espeto rodando nas mãos, tudo ao mesmo tempo, Sérgio e seus malabarismos retóricos saíram-se com essa na tentativa de desconstruir as evidências, abre aspas: “é fato que vários nomes que trabalharam comigo na prefeitura, foram aproveitados pela atual administração, mas afirmo eu ou o PT não indicamos ninguém, nem fomos consultados a respeito de quem quer que seja”. Sei, sei. Aliás, a gente sabe. Afinal, o que faz, na antessala de Antonio Manoel, a ex-dama de companhia de Selma Mello (quando esta, comandava, como esposa de Sérgio, o Fundo Social de Solidariedade) ? Ou então, raios, que diabos significa a presença do filho de um petista histórico no comando da Secretaria de Esportes , mesmo que “por pouco tempo” ? Pergunta-se, na inocência imaculada de sempre: o que fariam, no Governo Junão, engenheiros que não muito tempo atrás labutavam, feito camelos workaholics , na construção dos jardins suspensos da babilônia petista? Pergunta-se mais ainda: o que faz ,no comando da Guarda Civil Municipal de Junão , um dos apoiadores incondicionais de Sérgio, que sempre não tem nada a ver com isso? Segue o espetáculo: teria algo a ver com o PT o fato de um simpatizante do mellismo ser designado motorista oficial do gabinete de Junão? Para quem não sabe, os ouvidos de motoristas oficiais são potes de ouro que guardam segredos inconfessáveis que teimam em escapar dos lábios de passageiros ilustres. Para uma constelação de estrelas (vermelhas) uma constelação de perguntas inconvenientes: pura coincidência o fato de um biólogo “desfiliado” que já deu a vida e as veias por Sérgio Mello, ocupar um cargo de confiança na Saúde manoelista? Como se vê, os argumentos do Sérgio “isentão” são atropelados por fatos, cargos, nomeações e, fundamentalmente, pessoas. Sim, é muito difícil acreditar que o livre arbítrio de Junão tingiu de vermelho o Paço Municipal “Messias Cândido Faleiros” na maior inocência, sem o menor interesse e apenas e tão somente por coincidência ou aridez de quadros capacitados.
EM BUSCA DE UM PALANQUE QUE NÃO EXISTE
O dado concreto: os petistas e seu grão-duque, Sérgio de Mello, desde a derrocada em 2016, uma época em que o sebastianismo da Lava-Jato e os crimes da República de Curitiba demonizavam o Partido dos Trabalhadores enquanto Dilma naufragava na economia; foram jogados no vale dos leprosos. Assim, tanto em 2020, nas eleições regulares que reelegeram José Eduardo (que depois viria a cair com o Golpe do 9 de Dezembro); como em 2021, nas suplementares que abriram o oceano para Antonio Manoel; o único palanque que sobrou para a turma escarlate foi o do apoio envergonhado. Nas duas eleições, o PT local foi informado que seu “apoio” só seria aceito “em segredo”. Sem palanque, sem anúncio, sem nada. Apesar de ser um dos nomes mais importantes da história política guairense e responsável pela gestão que garantiu contornos escandinavos à qualidade da saúde municipal, Sérgio de Mello, então ainda acossado pela prática de Lawfare de adversários que desejavam dizimá-lo; parece ter aceitado essa condição de vassalagem. Os cargos no governo Junão, embora negados como fruto de acordo, gritam no sentido de mostrar que na contagem do milho necessário à eleição de Antonio Manoel contra Edvaldo Morais (inimigo fidagal de Sérgio de Mello), houve o “reconhecimento” de que o silêncio lacaio do PT ajudou no resultado final. E foi assim que o milionário Junão, filho da elite quatrocentona da cidade, resolveu premiar Sérgio, o “isentão” progressista, com sinecuras para sua turma. Em busca de um palanque que nunca existiu, o PT guairense parece ter se prostituído com cafetinagem barata.
“VAMOS MOSTRAR NOSSA PESQUISA PARA O JUNÃO”
A humilhação não parou no silêncio obsequioso. Diz a lenda que num dos últimos encontros do diretório vermelho, um dos próceres da sigla que, sim, ocupa cargo no governo manoelista , teria proposto “fazer uma pesquisa” para ver a situação de Sérgio de Mello e depois “apresentá-la” a Junão como “moeda de negociação”. Pode haver algo mais lacaio para um partido cuja maior estrela nacional é o atual Presidente da República, respeitado como líder mundial? Onde foi que o PT guairense perdeu sua autoestima? Onde foi que Sérgio de Mello, prefeito por oito anos, se perdeu para se comportar como coadjuvante de uma liderença que mal tem dois anos de história e que só chegou ao poder pela brecha de um golpe?
“ME CABE AÍ? ”
Outro exemplo de vassalagem inexplicável. Uma figura conhecida do partido e respeitada profissionalmente, estaria articulando a própria nomeação como segundo nome da pasta de assistência social do governo Junão. Como até as garças do Lago Maracá já sabem, a Assistência Social manoelista é um celeiro de escândalos investigado pelo Ministério Público. Um forno medieval que torra reputações. Por lá, a queda mais emblemática, por determinação do MP, foi da então secretária da pasta, Maria Adriana, que, não por acaso, também tem origens no diretório municipal do PT.
“PARÓQUIA DO VIGÁRIO MANOEL”
Convidado a dar sua versão sobre todos os fatos no podcast “Por trás das cortinas”, que este colunista está lançando (você terá mais informações em breve), Sérgio de Mello declinou. Alegou que “ainda é cedo” mas afirmou que está considerando a ideia de “ter o próprio palanque” e virar a página da mendicância dos últimos anos. O PT é o maior partido do Brasil e tem a maior fatia do bilionário fundo partidário. O PT tem o Presidente da República.O PT tem a maior rede capilar de filiados e militantes. Está na hora de Sérgio de Mello assumir sua responsabilidade histórica ao invés de assistir, passivo, a simpatizantes, filiados, ex-filiados, melancias (verdes por fora e vermelhos por dentro) e afins cerrarem fileiras numa romaria humilhante em busca de milagres na Paróquia do Vigário Manoel.
PICADEIRO
Na imagem deste post, inteligência artificial mostra Sérgio de Mello no picadeiro de um circo. Já passou da hora do ex-prefeito parar com malabarismos mambembes na tentativa de justificar o injustificável e assumir as responsabilidades à altura de sua importância histórica.
Conrado Vitali,54, guairense radicado em Brasília (DF) desde 1998, é jornalista e political marketer, tendo sido vitorioso em várias campanhas eleitorais que coordenou em sua terra natal (Guaíra-SP).
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