Alguém já disse, com impressionante assertividade, que “não há nada mais inspirador que o desespero”. Para um, o desespero de ficar. Para outro, o desespero de voltar. Para um, o desespero de provar, especialmente a si mesmo, que aquilo é muito mais que uma autoilusão oportunista. Para outro, o desespero de provar que aquilo não passou de um golpe destinado a tirar do jogo quem realmente venceu. Para um, o desespero de permanecer e provar a si mesmo que é capaz de tornar-se , de fato, a nova e promissora liderança do município. Para outro, o desespero por derrotar um impostor e provar a si mesmo que o destino dos grandes e predestinados não trai a verdade. A guerra entre José Eduardo e Junão será travada com espadas e baionetas. Será, sob qualquer ângulo que se queira analisar, uma das mais duras eleições já disputadas em Guaíra (SP) – terra natal deste jornalista – nos últimos 30 anos.
O QG DAS TERÇAS
Como velhos generais que se reúnem ao redor do fogo para , entre um trago e outro, lembrar antigas batalhas enquanto esperam por novas guerras; os próceres do eduardismo se reúnem, todas as terças, há quase dois anos, em um casa da parte baixa da cidade para lamber as feridas, cozinhar e filosofar sobre o futuro enquanto tomam cerveja e destrincham nacos de carne. Vez ou outra, alguns deles (em geral os mais novos) arriscam um gole de uísque. Há ex-prefeitos, anciões da velha guarda, companheiros de longa data e até mesmo gente que ocupou cargos importantes em governos mais recentes. A maioria, conforme relata um habitué do convescote político semanal , já tem como certo que, no mínimo, o “Duelo de Titãs” entre José Eduardo e Junão , revelado pela coluna e confirmado pelos fatos; vai ser um “banho de sangue”. Nenhum eduardista experiente põe em dúvida a disposição de Junão em atacar ferozmente, sem tréguas e de forma implacável, José Eduardo. Os caciques e pajés do eduardismo, seguidos pela ala mais jovem, admitem abertamente que Junão fará o que for preciso para não ceder o poder. Estão certos. É inimaginável, não só pelo poder que significa controlar um orçamento aproximado de R$ 1,5 bilhão em quatro anos; mas também e especialmente pela folclórica vaidade do filho de Dona Eliza. Perder para José Eduardo significaria um inferno astral de, com o perdão do trocadilho, proporções bíblicas para o marido de Marta. Perder para o filho de Dona Edna custaria a Junão, muito mais do que a fortuna que ele pretende gastar, o prestígio que ele perseguia há anos e que finalmente alcançou pela brecha “divina” do 9 de Dezembro, o “Dia que Nunca Terminou”.
EJACULAÇÃO PRECOCE
Perder para José Eduardo significaria, sobretudo, que Junão jamais passou do que se poderia chamar de “ejaculação política precoce”. Depois de cortejar por décadas a prefeitura, quase sempre sendo preterido por outros postulantes, Junão, depois de conquistá-la, a deixaria escapar pelos dedos, bem ao estilo ‘nem bem entrou, teve que sair’... “já que essa maldita prefeitura sempre foi apaixonada por José Eduardo”. Os caciques do “QG das Terças” estão cobertos de razão. A ideia de perder prematuramente a prefeitura para um José Eduardo que ele acreditava ter sentenciado à morte política, faz de Junão um homem público perigoso, disposto a tudo, menos ser derrotado pela filho de Dona Edna.
VOCÊ FARIA DIFERENTE?
É preciso, para o bem da verdade e da vida como ela é, perguntar, sem ofender: no lugar de Junão, caro leitor, você faria diferente? É bastante provável que não. Tal como ele, você, se tivesse a prefeitura nas mãos, iria para a guerra com José Eduardo armado até os dentes. No continente mental habitado pelos manoelistas, Junão se elegeu sim de forma oportunista, aproveitando-se da cratera aberta pelo Gaeco. Mas não foi ele quem protagonizou o escândalo (justo ou não, persecutório ou não). “Sabe como é...na política não tem vácuo. Vacilaram e o Junão papou”. O argumento é tão simplório quanto verdadeiro. Tão óbvio quanto convincente. Se a situação fosse inversa, e fosse Junão o abatido pelo Ministério Público, os eduardistas não teriam deixado por menos e o teriam comido com farinha. “Sabe como é....”.
UMA GUERRA QUE NÃO É PARA AMADORES
Há duas certezas em relação ao Duelo de Titãs. Uma, a mais óbvia: já se sabe, com impressionante antecedência, quem vai disputar o poder guairense. Ao contrário de outros carnavais, dessa vez a cidade se verá cindida diante de uma polarização poucas vezes vista na história de quase cem anos do município que tem uma das maiores extensões territoriais de todo o estado de São Paulo. A outra serve para afastar românticos, sonhadores e os previsíveis palpiteiros: a guerra que já está em ebulição nos bastidores não é para amadores.
Na imagem deste post, inteligência artificial mostra caricaturas de Junão e José Eduardo no campo de batalha: espadas, punhais, baionetas...
Conrado Vitali,54, guairense radicado em Brasília (DF) desde 1998, é jornalista e political marketer, tendo sido vitorioso em várias campanhas eleitorais que coordenou em sua terra natal (Guaíra-SP)