Já se disse por aqui que as municipais de 2024 em Guaíra (SP) – terra natal deste colunista – serão, mais que uma eleição, um plebiscito entre quem ama José Eduardo e quem teme Junão. O filho de Dona Eliza, temido como chefe implacável; terá pela frente, como não queria, o filho de Dona Edna, amado como líder conciliador. Sim, o favoritismo de Junão subiu no telhado de acrílico mas ainda mantém um pé seguro na escada. Sua administração, mesmo espremida por uma ampulheta de três anos, está longe de ser despretensiosa. Vaidoso e ambicioso, Junão aprendeu a fazer política e se livrou, depois de décadas de figuração, da sina de “apoiador de luxo”. Com toda a história de sucesso empresarial que tem, Antonio Manoel, até 2020 (quando apoiou um picolé de chuchu que acabou se tornando, depois, em 2021, seu vice) , nunca havia conseguido passar da condição de coadjuvante financiador de campanhas. Repito aqui, “ipsis litteris”, o que já escrevi anteriormente: de pugliesistas a orlandistas aos quais já foi aliado (por convergência de classe ou conveniência política), Antonio Manoel da Silva Júnior nunca despontou como “primeira opção”. Mesmo com as burras entupidas de dinheiro, Junão, até a tragédia do 9 de Dezembro de 2020, o “dia que nunca terminou”; jamais conseguiu escalação no time titular do establishment guairense. O máximo que seus “companheiros” permitiram foi que concorresse, lá atrás, como vice de Minininho (1996). A chapa foi derrotada na eleição histórica que elegeu Cláudio Armani. Adivinhe quem levou a culpa pelo fracasso? “Aquele vice que ninguém gosta”. Cansado de ser o caixa-forte de campanhas ingratas, Antonio Manoel viu no 9 de Dezembro a oportunidade para alcançar as luzes da ribalta. E o fez com competência. A volta de José Eduardo ao jogo – revelada aqui com a exclusividade e antecipação de sempre – é uma ameaça concreta aos planos de Junão. Isso não quer dizer, porém, que o caminho para enfrentar o carisma monumental do filho de Dona Edna seja tão complexo assim.
ANABOLIZAR REALIZAÇÕES
Junão precisará de um bom planejamento comunicacional para anabolizar suas realizações. É consenso, até entre opositores, que a gestão de Antonio Manoel superou as expectativas do ponto de vista programático e também pragmático. O fundamental para ele agora é anabolizar, com marketing profissional (e não falo aqui de sua previsível e morna comunicação oficial, utilizada na prefeitura, moendo dinheiro público com peças de “inteligência” infantil) , tudo o que já fez. Mesmo em seu curto mandato de três anos (com ainda um pela frente além dos dois já cumpridos) , o filho de Dona Eliza soube manejar recursos de forma a imprimir um ritmo bastante consistente à administração pública. “Olhem para tudo que eu fiz em apenas três anos, comparem com meus antecessores e me dêem mais quatro anos para que eu possa mostrar tudo do que ainda sou capaz”.
RESGATAR ESCÂNDALOS DO GOVERNO ANTECESSOR
Ainda que se saiba que a investigação do Ministério Público que derrubaram José Eduardo sejam eivadas de vícios e controvérsias e, mais do que isso, que suas engrenages ensejem a suspeita de que o filho de Dona Edna foi, na verdade, vítima de “Lawfare” praticado por seus inimigos; o “9 de Dezembro – O Dia que Nunca Terminou” jamais poderá ser apagado da história local. Permanecerão , ad eternum, sendo fortes, pesadas e indigestas as imagens de camburões cercando a prefeitura enquanto figurões da administração pública, incluindo o vice-prefeito, são levados presos acusados de corrupção. A existência, pós-tragédia, de condenações concretas (como é caso de servidores já sentenciados em primeira instância) só torna a coisa pior e um prato cheio para a campanha de Junão. Fotos e vídeos inéditos daquela data infame são bombas esperando para explodir sobre a cabeça dos eduardistas em 2024. Muito mais que o óbvio ululante, o resgate dos escândalos do governo antecessor pode ser o antídoto ideal de um Junão antipático contra um José Eduardo que esbanja empatia. “Não estou aqui para ser amado e sim respeitado. Vocês preferem um realizador chato ou um corrupto legal”?
MOSTRAR QUE DEMITIU TODOS QUE TRAÍRAM SUA CONFIANÇA
A oposição, ou o arremedo do que deveria ser, costuma criticar Junão pelo alto índice de “turnover” de seu governo. Junão trocaria de assessores como troca suas camisas (cada vez mais largas) da Ralph Lauren e da Brooksfield (talvez fosse hora de marido de Marta se repaginar visualmente, recorrendo ao estilo “quiet luxury”), o que traria constante “instabilidade ao seu governo”. Do limão galego, uma limonada siciliana. Junão precisa ter a resposta na ponta da língua: “eu não fico protegendo ‘companheiro’ envolvido em malfeitos. Eu demito. Eu não sou ‘simpático’ com quem trai a minha confiança. Eu simplesmente faço o que é necessário: mando embora. Faço quantos vezes for preciso. Isso é administrar. Está aí o caso do Deágua que não me deixa mentir”.
O REALIZADOR HIGIENIZADOR
Na imagem deste post, inteligência artificial mostra um Junão “vitorioso” em 2024. Num cenário de realismo fantástico e referências medievais, Junão “prova” que para vencer e ser “festejado” pela multidão, às vezes não é preciso ser amado e sim temido. Logo atrás, é possível ver uma “carroça de prisioneiros”, com membros do Governo José Eduardo enjaulados. Seria a vitória de quem higienizou a prefeitura. “Junão, o realizador higienizador”.
Conrado Vitali,54, guairense radicado em Brasília (DF) desde 1998, é jornalista e political marketer, tendo sido vitorioso em várias campanhas eleitorais que coordenou em sua terra natal (Guaíra-SP)