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O PÃO, O CIRCO E A LEI

Prefeito-candidato ameaçado pela volta de José Eduardo ao jogo, Junão atropela a legislação eleitoral e contrata shows milionários para a Festa do Peão 2024

Conrado Vitali
Por: Conrado Vitali
20/11/2023 às 13h45
O PÃO, O CIRCO E A LEI
Na imagem inteligência artificial mostra Junão como um imperador romano. À César, o que é de César. Até seus erros.

Contratação de Gustavo Lima e Maiara e Maraísa vão custar a bagatela de R$ 1.650.000,00 aos cofres públicos. Os portões, como já ventilado aos quatro ventos, serão “abertos” ao público; não por acaso o distinto pagante do escárnio

“Panem et circenses”. Embora alguns historiadores contemporâneos tenham inaugurado uma controversa revisão do conceito, a política perniciosa do “Pão e Circo” desenvolvida durante a República Romana e também no decurso do Império dos Césares, ainda é a tese mais aceita por historiadores sérios que analisam os subterfúgios utilizados pela elite governante ao longo dos séculos para manipular a plebe pagadora de impostos. Em Guaíra (SP), terra natal deste colunista e região do interior paulista onde prevalece o conservadorismo e o gosto natural pela sertanejo “arrasta-chifre”, a oferta de shows de apelo popularíssimo com nomes estrelados da fivela, botina e chapéu (nada contra aos que assim preferem mas eu não aprecio) soa como um irresistível canto de sereia num município onde as opções de lazer e cultura são tão abundantes como poços de petróleo. Sabendo disso e costeando o alambrado da ilegalidade, Antonio Manoel, o prefeito-candidato ameaçado pela volta de José Eduardo ao jogo; resolveu, como um tirano certo da impunidade, atropelar a legislação eleitoral e contratar, com dinheiro público, shows milionários para a Festa do Peão 2024, não por acaso o ano em que o filho de Dona Eliza vai tentar permanecer no poder como candidato à reeleição. Faltou, é claro, combinar com a leglislação eleitoral.

O QUE DIZ A LEI E O QUE FEZ JUNÃO

Desnecessário esperar que Galvão inquira o companheiro de transmissões: “pode isso Arnaldo”?. A Lei das Eleições é clara. Cristalina. Solar. Vejamos: “configura conduta vedada prevista no art. 73, Ej 10, da Lei das Eleições, a realização de evento com shows de artistas renomados, com entrada franca da população, ocorrido no ano das eleições”. Vejamos mais: “caracterizado ainda abuso de poder econômico e abuso de poder político havendo demonstração de que o valor gasto na contratação dos shows foi vultoso em relação à própria campanha eleitoral, ou seja, a máquina pública foi utilizada em prol de candidatura, causando desequilíbrio no pleito”. Junão já cometeu o crime? Ainda não. Os shows de Gustavo Lima e Maiara e Maraisa, embora já oficializados pelo marketing da festa e descritos em aviso da Modalidade de Inexibilidade (contorcionismo semântico-jurídico para o ato de contratar sem licitar) do setor de Licitações e Contratos da prefeitura do município, ainda não aconteceram nem foram efetivamente pagos. Logo, o crime ainda não foi consumado. Junão ainda não puxou o gatilho. Só armou o cão.

 

O MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL, A MÃE DE JOSÉ EDUARDO E A RÉGUA DO PAU QUE BATE EM CHICO E TAMBÉM EM FRANCISCO

Relembrar é viver. Para não deixar morrer. Quem não se lembra do rigor draconiano do Ministério Público Eleitoral nas eleições 2020? Certo de seu sebastianismo naqueles tempos estranhos, o MP guairense resolveu pedir a impugnação da chapa do então prefeito-candidato José Eduardo por conta de uma entrevista na qual a ex-primeira-dama Edna Coscrato Lelis (mãe de José Eduardo e esposa do ex-prefeito Adnaer Lelis) demonstrava amar o filho. Se o amor a um filho foi motivo de tentativa de impugnação de uma candidatura em 2020 (na época, para o MP, o jornal que publicou a entrevista favoreceu José Eduardo), o que se dirá em 2024, se confirmado o pagamento de quase R$ 2 milhões a estrelas sertanejas com dinheiro da plebe em ano eleitoral? Fosse eu algum dedicado servidor do setor de licitações da prefeitura que se presta a ajudar Junão no contorcionismo da lei eleitoral, tratava de ficar longe de canetas e carimbos. O xilindró de Franca, como se sabe e já se viu, pode virar, mais uma vez, um “Airbnb” onde o sol nasce quadrado para alguns guairenses.

 

O QUE DIZIA NAPOLEÃO

Um dos maiores estrategistas de guerra de todos os tempos, Napoleão Bonaparte (como já dito aqui, depois de conhecer sua tumba em Paris, estarei na estreia de sua cinebiografia com Joaquin Phoenix na próxima quinta aqui em Brasília) ensinava, com fina inteligência: “não atrapalhe o inimigo quando ele estiver errando”. Isso não é um problema meu e sim da campanha de José Eduardo. A este jornalista cabe mostrar os fatos como eles são, ainda que isso possa abrir o olho de Junão. Fosse eu o filho de Dona Eliza não alimentava tanta certeza sobre impunidades cada vez mais improváveis.

 

PARA OS AMANTES DO SERTANEJO

Você, caro leitor, é um daqueles paladinos da moralidade que acha que José Eduardo deveria ter sido cassado mesmo por conta da entrevista de Dona Edna mas fecha os olhos para o escárnio da contratação milionária de sertanejos estrelados com dinheiro público porque deseja se refestelar ouvindo “O Embaixador” na boca da ribalta? Lamento. Não sou candidato a nada e a decisão correta, à luz da moral pública, é cancelar a contratação e decepcionar a expectativa de milhares de guairenses. Junão, como prefeito, pode muito mas não pode tudo. Ninguém está acima da lei. Nem eu. Nem Gustavo Lima. Nem Maiara e Maraisa. Nem José Eduardo. Nem Antonio Manoel. 

 

Conrado Vitali,54, guairense radicado em Brasília (DF) desde 1998, é jornalista e political marketer, tendo sido vitorioso em várias campanhas eleitorais que coordenou em sua terra natal (Guaíra-SP).

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'A coluna “2024 é Logo Ali” é destinada exclusivamente aos seguidores e à audiência do município de Guaíra-SP, terra natal deste colunista'.
Esse é o texto para definição dessa coluna no perfil pessoal de rede social do Jornalista Conrado Vitali, que atualmente reside e trabalha em Brasília - DF.
Aqui serão reproduzidos seus textos na íntegra, sendo que tal reprodução está previamente autorizada pelo autor.
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