Prefeitura vai bancar, em ano eleitoral e com dinheiro público, shows de porteira aberta no valor de mais de R$ 2 milhões na festa organizada pela Arena Eventos, que “era” de Antonio Manoel e agora “é” de Marinho Ferreira
Quando gladiadores enfrentavam leões famintos na arena do Coliseu de Roma, o público, em catarse sanguinária, sequer se preocupava com o que acontecia nos bastidores daquele circo macabro. O que interessava era assistir, em êxtase, a batalha de vida ou morte entre homens e feras. Inaugurado no Ano 81 depois de Cristo, o anfiteatro que podia abrigar até 85 mil espectadores (a média era 65 mil por “espetáculo”) é um dos símbolos mais preservados e grandiosos do Império Romano. Os Césares daquela época tinham como favas contadas que para domesticar o povo faminto bastava um pedaço de pão e um circo sangrento com entrada gratuita. Quase vinte séculos depois e com o perdão, desde já, a Julio César, Augusto, Tibério, Calígula, Cláudio, Nero, Galba, Óton, Vitélio, Vespasiano, Tito e Domiciano pela comparação depreciativa; os “Césares” de hoje tentam repetir a fórmula de tramar nos bastidores para triunfar na arena. O diabo é que a história, como bem se sabe, só se repete em forma de farsa. E, mais do que isso, faltará sempre combinar com a verdade e com a curiosidade investigativa de escribas rebeldes infiltrados entre as colunas subterrâneas dos coliseus modernos. É assim que você ficará sabendo hoje que o prefeito de Guaíra (SP), Antonio Manoel da Silva Júnior, transferiu a propriedade de sua empresa de “showbusiness”, a ARENA EVENTOS, responsável pela realização da milionária Festa do Peão 2024, para o presidente da comissão organizadora, Mário Garcia da Costa Filho, o “Marinho Ferreira”. Sim, é isso mesmo. Por que a surpresa? Numa terra onde a sensação de impunidade dá o tom do surreal, que mal haveria em imaculadas mudanças societárias de empresas que serão beneficiadas com dinheiro da viúva (mas pode me chamar de prefeitura)? Na mesma terra em que a prefeitura aprova facilidades inacreditáveis para a exploração de loteamentos particulares pelo prefeito, a empresa que organiza a Festa do Peão que terá shows de mais de R$ 2 milhões pagos pelo contribuinte , tem como “ex-sócio fundador” o próprio prefeito. Nada que uma mudança “santa e providencial” no quadro societário não possa “resolver”, não é mesmo? Em detalhes, sempre sórdidos, nos tópicos a seguir.
DE CÉSAR PARA CÉSAR
Assim como o inferno sempre estará repleto de boas intenções, o papel sempre esteve pronto para aceitar tudo. Inclusive os oficiais. Não é por outra razão que “césares” modernos (que me perdoem Calígula – aquela das festas onde “todo mundo comia todo mundo”) tricotam, sem a menor cerimônia e certos da mais absoluta impunidade, seus “planos infalíveis” na Receita Federal. É assim que numa consulta que pode ser feita até por uma criança vestida de cowboy , encontra-se, na plataforma da Receita Federal do Brasil, na chamada REDESIM - Rede Nacional para Simplificação do Registro e da Legalização de Empresas e Negócios, a ficha completa da ARENA EVENTOS, A EMPRESA INCUMBIDA DE REALIZAR A FESTA DO PEÃO DE GUAÍRA 2024 COM UM PRESENTÃO DE MAIS DE R$ 2 MILHÕES DO DINHEIRO PÚBLICO EM PLENO ANO ELEITORAL. De acordo com a Receita Federal, a empresa foi aberta em 28 e abril de 2009. Naquela época seu sócio-fundador era Antonio Manoel da Silva Júnior. Sim, a ARENA EVENTOS, organizadora da Festa do Peão de Guaíra 2024, tem como sócio-fundador Antonio Manoel, o chefe do executivo que, montado na mais absoluta sensação de impunidade vai torrar, em ano de eleição e apesar de todas as recomendações contrárias do Tribunal Superior Eleitoral, a “bagatela” de mais R$ 2 MILHÕES DO DINHEIRO PÚBLICO na contratação de artistas milionários. Contextualizando o escárnio: a PREFEITURA que deixou crianças e adolescentes vulneráveis comendo arroz com salsicha em 2023 no Escândalo da Associação Lar, é exatamente a MESMA que, em 2024, vai gastar o que não tem com shows sertanejos NUMA FESTA ORGANIZADA POR UMA EMPRESA FUNDADA PELO PREFEITO. A desfaçatez e a ofensa à inteligência do cidadão parecem não ter limites entre os “Césares”. É assim que eles imaginaram que transferindo a empresa entre si conseguiriam “apagar” as digitais de propriedade do prefeito. Ricos tolinhos. Explico: quando há uma mudança no quadro societário de uma empresa, só ficam disponíveis para consulta pública do CNPJ os documentos atualizados. Assim, quem consultar hoje o site da Receita Federal verá que o sócio-administrador da ARENA EVENTOS é o presidente da Comissão Organizadora da Festa do Peão, Mário Garcia da Costa Filho, o “Marinho Ferreira”. O problema, para os césares e não para o público do Coliseu, é que leões famintos deixam rastros nos subterrâneos da arena onde será realizado o “espetáculo”. É o que você confere a seguir.
SISTEMAS DE BUSCA DE CNPJ MOSTRAM QUE O PREFEITO DA CIDADE ERA O PROPRIETÁRIO DA EMPRESA QUE ORGANIZA A FESTA DO PEÃO
Até mesmo um cavalo crioulo de um haras milionário conseguiria, com os cascos corretamente ferrageados e coma barriga cheia de ração melaçada, fazer uma busca rápida na internet e encontrar diferentes sistemas de busca de CNPJ que mostram que a Arena Eventos foi fundada em Guaíra, em 2009, por Antonio Manoel da Silva Júnior. É o caso por exemplo do “Guia do CNPJ" que ainda exibe, por descuido dos administradores da plataforma e para desespero de amigos milionários, o prefeito como proprietário da empresa.
“PODE ISSO ARNALDO?”
Antonio Manoel, “nosso herói” , pode transferir a propriedade de suas empresas, inclusive as que organizam festas populares, para quem ele bem entender e a hora que quiser. O que não pode, diria qualquer César Coelho, é achar que manobras como essa são capazes de apagar o passado para suavizar o presente. O que enoja em mais esta descoberta de bastidores é que o município de Guaíra é hoje governado por um prefeito que não se incomoda em desafiar a lei, confundindo o público com o privado, perseguindo desafetos e que acreditava (tolinho) que seu último ano de governo seria um passeio marcado, sobretudo, por mentiras bem contadas, aplaudidas por claques de comissionados e “órgãos de imprensa” satisfeitos com sua parte no butim. Como se vê e como se lê, Antonio Manoel, apesar de achar que pode muito, na verdade pode muito pouco.
A VERDADE QUE GEME E O ESCÁRNIO QUE ARDE NA DEPRAVAÇÃO DA COISA PÚBLICA