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DEPOIS DE ASSÉDIO MORAL DE PREFEITO DE GUAÍRA (SP) CONTRA DIRETORA DE JUSTIÇA, PROCURADORAS DO MUNICÍPIO FORAM AO MINISTÉRIO PÚBLICO DENUNCIAR O CASO

Ataque de fúria do chefe do executivo teria sido ouvido até do lado de fora da prefeitura

Conrado Vitali
Por: Conrado Vitali
29/02/2024 às 10h48
DEPOIS DE ASSÉDIO MORAL DE PREFEITO DE GUAÍRA (SP) CONTRA DIRETORA DE JUSTIÇA, PROCURADORAS DO MUNICÍPIO FORAM AO MINISTÉRIO PÚBLICO DENUNCIAR O CASO
De um lado, Andresa Romanelli e de outro, Patrícia Barbosa. No meio, imagem de manifestação do movimento mundial #MeToo
Prefeito pressionava diretora que se negou a liberar documentos que prejudicariam a administração pública
 
Há cinco anos, centenas milhares de mulheres ao redor do mundo começaram a usar a hashtag #MeToo (“eu também”, em tradução livre) para denunciar a violência contra a mulher, seja ela de cunho moral, de gênero ou sexual. O movimento levou à cadeia nomes estrelados do show business, como o magnata e até então intocável chefão da indústria do cinema Harvey Weinstein, um abusador contumaz cheio da grana que viu seu império ruir depois que dezenas de mulheres o denunciaram. Não há desrespeito que dure a vida toda. Não há covardia que se pratique para sempre. O #MeToo guairense parece começar a vir à tona apesar do medo de boa parte das vítimas e do silêncio covarde de sabujos e puxa-sacos. Com se sabe desde tempos imemoriais, uma hora o copo transborda. Uma hora a mesa vira. Uma hora alguém resolve dizer NÃO. E não adianta berrar. E não adianta ameaçar. E não adianta tentar intimidar. Você vai conhecer um dos desdobramentos menos conhecidos porém mais marcantes do assédio moral praticado pelo prefeito de Guaíra (SP) -terra natal e distante deste que vos escreve diariamente – contra sua Diretora de Justiça, que acabou demitida, aos berros, depois de se negar a autorizar a liberação de documentos de contratação de serviços pela prefeitura que prejudicariam, pela imoralidade e pela ilegalidade, a administração pública do município. O caso foi revelado ontem,28 de fevereiro , com exclusividade, por esta coluna. Nada é para sempre. É o que se verá a seguir, para espanto de quem não sabia ( e são muitos os que sequer tinham ideia). Por precaução, tenha um Omeprazol ao seu alcance.
 
NÃO É TODO MUNDO QUE ABAIXA A CABEÇA PARA OS VALENTÕES
Como bem se sabe, nessa vida não é todo mundo que abaixa a cabeça para os “valentões”. Tem gente que parece frágil por fora mas é uma muralha por dentro. Foi assim que Antonio Manoel, o prefeito loteador de Guaíra, ficou sabendo que apesar de poder muito, não pode tudo. Ele também ficou sabendo mais. A prefeitura da cidade não é uma extensão de seus negócios e muito menos um escritório de suas fazendas e loteamentos, onde ele manda e desmanda como um coronel do Brasil agrário dos anos 50. Antonio Manoel ficou sabendo ainda que quem despacha na prefeitura (à exceção dos lacaios comissionados ) está ali porque estudou, prestou um concurso público e, por mérito, alcançou a proteção da estabilidade na carreira. Não, Antonio, essa gente não é empregada sua. Os servidores, caro Manoel, não são “parasitas” como você disse durante sua campanha. “Parasitas”, prezado Junão, são todos aqueles ocupantes de cargos de confiança que sabem o que você faz mas ficam caladinhos, de boca fechada, mesmo diante de absurdos inomináveis como gritar com uma mulher e humilhá-la porque ela teve a coragem de enfrentá-lo, em nome da lei e dos princípios elementares da administração pública. Não será difícil, diante dos fatos, das provas e das denúncias, Antonio Manoel entender, pela dor, que aumentos de salários ao funcionalismo não são capazes de calar quem se recusa, bravamente, a vender a própria dignidade. O tempo dos valentões que tentam enfiar suas vontades goela abaixo de subordinados já sei foi, há muito tempo. #MeToo.
 
PROCURADORAS DO MUNICÍPIO FORAM AO MINISTÉRIO PÚBLICO NA MESMA TARDE EM QUE EMILIANA FOI HUMILHADA
Ciosos de seus salários como comissionados, os membros do Governo Junão que ocupam cargos de confiança e não se levantam contra os assédios do chefe são um caso clássico daquela “estirpe” de pessoas que fecham a boca e abrem o bolso. Como dito pelo Diretor de Justiça que substituiu Emiliana Ribeiro ao comunicar a procuradora Andresa Romanelli que ela deveria despachar longe da prefeitura, “nessa vida há dois tipos de pessoas: as que mandam e as que obedecem”. Permita-me discordar, caro Adalberto. Nessa vida, o que há, na verdade, são outros dois tipos de pessoas: as que se submetem e as que enfrentam. Foi exatamente o que fez Emiliana Ribeiro. Preferiu ser demitida aos berros do que ajoelhar, calada, diante das pressões imorais do prefeito. Foi exatamente o que também fizeram as procuradoras Andresa Romannelli e Patrícia Barbosa, servidoras de carreira sobre os quais o chefe do executivo não tem o poder de exonerar, já que elas conquistaram seus cargos por meio de concurso público. Estarrecidas com a gritaria e com o desligamento injusto da Diretora de Justiça Emiliana Ribeiro, Andresa e Patrícia mostraram que não iriam abaixar a cabeça. Enquanto Emiliana era demitida no gabinete do prefeito,as duas se dirigiram a outro gabinete, o do promotor de Justiça da cidade. É o que você conhecerá em detalhes no próximo tópico.
 
COMO TUDO ACONTECEU
O leitor já sabe, pela coluna de ontem (leia mais abaixo, nesta timeline) que antes de efetivamente demitir, em 5 de maio de 2022, a Diretora de Justiça Emiliana Ribeiro no que ficou conhecido como o “Teatro com Plateia” em seu gabinete executivo; o prefeito Antonio Manoel começou a cena antes. “Escoltado” por sua sombra (mas pode me chamar de Marizete Manfrim), Junão entrou , aos gritos e sem bater, na sala de Emiliana para cobrá-la, na frente de todos que lá estavam (especialmente sua desafeta Andresa Romanelli, a procuradora que não também nunca aceitou as pressões do chefe do executivo) porque Ribeiro “ainda não havia liberado” documentações que autorizavam a contratação de serviços pela prefeitura, entre os quais, shows para uma festa de peão e a aquisição de totens de monitoramento. Como dissecado anteriormente, Emiliana segurava os documentos por ter encontrado vícios e ilegalidades nos procedimentos que o prefeito exigia que fossem aprovados e, naquele exato momento, dedicava-se, junto com Romanelli, à preparação de outra documentação para receber, na semana seguinte, o Tribunal de Contas do Estado na prefeitura. Depois de invadir a sala da Diretora de Justiça, Junão assediou moralmente Emiliana, ao berrar com a assessora na frente de todos, afirmando, entre outras coisas: “QUEM MANDA AQUI SOU EU!”. E como se fosse Luiz XIV, o Rei da França que ficou conhecido pela frase despótica “O Estado Sou Seu”, gritou: “O PREFEITO SOU EU”. Como se a investidura do cargo autorizasse Antonio Manoel a passar por cima das leis que Emiliana, legalista e técnica, queria proteger. Junão prosseguiu, numa escala de decibeis que, dizem as boas línguas, teriam chegado até aos ouvidos do ex-prefeito Aloízio Lelis Santana, que mora quase em frente à prefeitura: “VOCÊ VAI FAZER O QUE EU ESTOU MANDANDO”. As mesmas boas línguas, de acordo com o anedotário local, chegam a dizer que nem de aparelho auditivo “Dr Aloízio” precisou para escutar o barraco que vinha da prefeitura. Depois do show de assédio, como se fosse um Harvey Weinstein local, Junão deixou a sala, batendo a porta e devidamente escoltado por sua “sombra”. Andresa, que presenciou tudo, parecia não acreditar no que havia acabado de assistir. Solidarizou-se com Emiliana enquanto esta se preparava, apesar de tudo, para ir ao gabinete do prefeito despachar com quem havia acabado de ameaçá-la. Como também sabemos, Emiliana voltaria do gabinete já demitida depois de lá ter sido mais uma vez humilhada diante de outras mulheres que também despachavam com o prefeito (Marizete Manfrim, Camila Lourenço, Vânia Tostes e Estefane Nascimento). Experiente, depois de presenciar o que custava a acreditar, Andresa Romanelli decidiu agir, do alto de sua autoridade como uma das servidoras mais bem preparadas da administração pública guairense. Chamou a outra procuradora do município, Patrícia Barbosa, que também despachava na prefeitura e foram direto para o Ministério Público denunciar o que estava acontecendo. A cena que se descreve daquele momento são as duas, com uma coragem incomum e histórica, pegando suas bolsas e correndo para a calçada, na parte de trás do prédio da prefeitura, em busca do carro que as levaria até o MP.
 
O ENCONTRO COM EMILIANA AOS PRANTOS
No final da tarde, quando retornaram à prefeitura depois da visita voluntária ao Ministério Público, Andresa e Patrícia encontraram Emiliana aos prantos, no andar de baixo da sede de governo, próximo à copa. Ficaram sabendo, novamente estarrecidas, que enquanto elas relatavam corajosamente o assédio ao MP, a colega assediada moralmente, como se isso não bastasse, havia sido demitida pelo prefeito. Andresa exclamou, enquanto prestava solidariedade à Emiliana: “eu NÃO acredito que tudo isso está acontecendo!”. Quando Andresa e Patrícia correram ao MP, não sabiam que Junão chegaria a tanto. Mas ele chegou e, com sua habitual sensação de impunidade (talvez “fruto” de sua educação como filho mimado de família rica e “poderosa”), fez mais. Como também revelado ontem, arrancou Andresa da prefeitura. Como, à luz da lei, o prefeito não podia demití-la como servidora concursada, decidiu humilhá-la (veja o relato no artigo anterior nesta timeline), “encostando-a” numa salinha distante e esquecida, fora do Paço Municipal, escondida no Departamento de Assistência Social.
 
OS GRITOS ALÉM DOS BERROS
Os contornos dantescos dos acontecimentos aqui revelados com uma riqueza de detalhes que você, leitor, não vai encontrar em nenhum outro lugar, expõem uma situação dramática que vai muito além dos próprios , chauvinistas e assediadores berros do prefeito. Muito além dos berros de Antonio Manoel, o caso da demissão humilhante de Emiliana Ribeiro e do confinamento igualmente degradante de Andresa Romanelli é um caldeirão de vários outros “gritos”, esses sim justificáveis. Grita no Ministério Público a necessidade de investigar a fundo o ambiente laboral tóxico e doentio do atual governo municipal. Grita na sociedade guairense o despertar para o que vem acontecendo a mulheres que dedicam suas vidas e carreiras ao serviço público guairense diante de mandatários de passagem que, por seu despreparo para a vida pública, são capazes de transformar o dia-a-dia na sede de governo num inferno psicológico. Grita na cabeça de quem não está vendido ou que mora dentro do bolso de Antonio Manoel, a desfaçatez da sensação de impunidade de um chefe do executivo que, por se considerar rico e poderoso, acha que pode criar seu próprio código de leis, como se fosse um Luiz XIV da pequena cidade do norte paulista: “O Município Sou Eu!”. Grita e grita muito, de forma ensurdecedora, o silêncio conveniente dos ocupantes de cargos de confiança (entre os quais, mulheres) diante das humilhações em escala industrial cometidas contra servidoras. Grita, sobretudo, a necessidade de um só grito coletivo que possa acabar, de vez, com os berros e despautérios de um tirano certo de sua impunidade.
 
ONDE OS “VALENTÕES” NÃO TÊM VEZ
Na imagem deste post, de um lado, Andresa Romanelli e de outro, Patrícia Barbosa. No meio, imagem de manifestação do movimento mundial #MeToo . Existem mulheres que não abaixam a cabeça para as ameaças de valentões.
 
A coluna “Por trás das Cortinas” é dedicada exclusivamente aos leitores e seguidores de Guaíra (SP), terra natal do autor radicado em Brasília (DF) desde 1998.
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POR TRAS DAS CORTINAS
'POR TRÁS DAS CORTINAS' é destinada exclusivamente aos seguidores e à audiência do município de Guaíra-SP, terra natal deste colunista'.
Esse é o texto para definição dessa coluna no perfil pessoal de rede social do Jornalista Conrado Vitali, que atualmente reside e trabalha em Brasília - DF.
Aqui serão reproduzidos seus textos na íntegra, sendo que tal reprodução está previamente autorizada pelo autor.
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