O ex-piloto e tricampeão de Fórmula 1 Nelson Piquet, que mora aqui em Brasília e nos últimos anos rifou sua imagem de ídolo do esporte ao babar ovo para o golpista e genocida Bolsonaro, também é conhecido, é preciso reconhecer, pela sinceridade desconcertante de suas análises. Entre as quais a de que pilotos que passam por acidentes traumáticos nunca mais conseguem ser os mesmos quando, “recuperados”, voltam às pistas. Foi assim com o próprio Piquet, depois do encontro com o muro em Indianópolis em 1992 (quando já corria pela Indy) e com tantos outros, como Felipe Massa, quando (2009), na Hungria, uma mola do carro de Rubens Barrichello, que estava à sua frente, escapou e foi parar na sua cabeça, ainda que “protegida” pelo capacete. Depois do incidente, Massa, uma grande promessa do Brasil nas pistas, perdeu alguns centésimos de segundo de agilidade que nunca mais foram recuperados. Em Guaíra (SP), o GAECO parece ter sido a “mola” do carro de Rubinho que bateu na cabeça de José Eduardo, o até então “imbatível” e “amado” prefeito herdeiro do espólio político do grupo “União e Progresso”, o mesmo que durante anos,subestimou Antonio Manoel, o atual prefeito-tampão, por conta de sua folclórica antipatia e até então péssima performance nas urnas. Reeleito em 2020 mas impedido de assumir o segundo mandato por conta da impugnação de sua candidatura, José Eduardo nunca mais foi o mesmo depois que a “mola” das investigações do Grupo de Atuação de Combate ao Crime Organizado bateu em sua cabeça. Não é por outra razão que o filho de Dona Edna já perdeu o trono de enxadrista político justamente para o filho de Dona Eliza. É o que se verá a seguir.
ENQUANTO JOSÉ EDUARDO PATINA NO PRÓPRIO MEDO, JUNÃO DESLANCHA GARANTINDO PÃO, CIRCO, REAJUSTES E UMA BOA ZELADORIA AO MUNICÍPIO
O medo consumiu José Eduardo. O medo de uma condenação transformou o filho de Dona Edna num pato manco, sem iniciativa, sem atitude. Quando, no final do ano passado, resolveu tê-la, jogou errado. Sim, foram os mesmos centésimos de segundo de agilidade perdidos por Massa. José Eduardo perdeu a mão e ganhou o medo. Ou ganhou o medo e perdeu a mão. A “mola” do GAECO, que já levou dois réus envolvidos no escândalo de desvios de recursos da prefeitura de Guaíra à condenação em primeira instância, acertou em cheio o juízo de José Eduardo. Ele perdeu segundos preciosos de raciocínio estratégico e não os recuperou mais. Quando se preparava para mostrar alguma coragem depois de um longo inverno de fuga e ostracismo, foi logo se alojar no PL, partido dos moscas mortas Valdemar da Costa Neto e Jair Bolsonaro. O primeiro, um mensaleiro histórico e habituè de xilindrós. O segundo, um ex-presidente inelegível, genocida e golpista, que será condenado e levado à prisão. O dado concreto é quem quem tem um antípoda como José Eduardo, como é o caso de Antonio Manoel, não precisa de novos amigos. O filho de Dona Edna e sua hesitação, sua falta de iniciativa e sua mais completa ausência de coragem (tudo isso depois da “mola” do Gaeco) são os melhores amigos da reeleição de Junão. Enquanto José Eduardo patina no próprio medo, tragando o que resta de seu grupo para uma espera suicida, Junão deslancha garantindo pão, circo , reajustes e uma boa zeladoria ao município. Junão tem Tarcísio, o governador pragmático e moderado do Republicanos que deve se transformar na maior força da direita lúcida nas presidenciais de 2026. José Eduardo acha que tem Bolsonaro, o pária internacional,ex-presidente tóxico do não menos radioativo Partido Liberal, flagrado planejando um golpe de estado depois de empilhar milhares de cadáveres com seu negacionismo assassino durante a pandemia da Covid-19, justamente a mesma que quase fez Dona Edna enterrar o primogênito. Quem você acha que vai se dar bem? Um incumbente que vem cuidando bem da cidade ou um ex-mandatário acusado de participar de um esquema de corrupção quando era prefeito? Um incumbente que traz o governador do estado na cidade ou um ex-prefeito que não consegue trazer nem os filhos rachadeiros e golpistas do inelegível no ambiente controlado e repleto de puxa-sacos de um dia de campo?
O QUE MAIS UMA POPULAÇÃO FUNDADA NA CULTURA DA BOTA, DO FIVELÃO, DO CHAPÉU DE ABA LARGA E DA MÚSICA SERTANEJA PODERIA QUERER DO QUE COMER BEM, TOMAR UMA CERVEJA, SER BEM ATENDIDA NOS POSTINHOS, ANDAR POR UMA CIDADE LIMPA E PODER FREQUENTAR (DE GRAÇA) FESTAS POPULARES COM GRANDES NOMES DO ARRASTA-CHIFRE?
Em tese, nada mais. Na prática, mais nada. Os romanos nos ensinaram como domar um povo. Como deixar a plebe dócil. Junão foi além dos Césares. Não só deixou a patuleia feliz com o pão e circo, como também mostrou que é possível, muito além disso, agradar o distinto povão no que o próprio considera mais importante, conquistando o coração da percepção de bem-estar da choldra. O “César” da Roma caipira, além de garantir grandes espetáculos no Coliseu da espora, remunera bem os soldados do exército do funcionalismo, garantindo reajustes bem acima da inflação. “César” faz mais. Garante que a plebe tenha um bom atendimento em saúde. Faz mais ainda: mantém a cidade limpa e organizada. Cuida do trânsito e urbaniza novas vias. E continua indo além: entrega casas populares passando por cima do verdadeiro responsável (Sérgio de Mello) pela conquista com se ele sequer fosse vivo. E assim vai colhendo, na base de um bem calculado “populismo de resultados”, a popularidade necessária para um segundo mandato enquanto varre para debaixo do tapete os escândalos do Deágua, da Assistência Social e dos loteamentos em causa própria. Enquanto tudo isso, na “Sala dos Borra-Calças” - muitos deles velhos, cansados e obesos - José Eduardo e sua demora impõem aos companheiros uma agonia estúpida. Uma espera insípida. Uma enrolação mortal. Um chove-não-molha kamikaze. Tudo em nome de seus próprios interesses pessoais. “Se der, eu vou. Se não der, ofereço um bode qualquer em sacrifício e me livro da derrota pessoal”. Entre homens e sacos de batata, sobram purês pastosos no eduardismo. Não há um “companheiro” capaz de se rebelar e chacoalhar o bambuzal. Não há um “ex-covarde” disposto a se opor ao morubixaba do grupo. Não há um valente para contestar o caminho da derrota semeado por José Eduardo. Não há nenhum “sangue novo” casca grossa para interromper o suicídio coletivo. Antonio Manoel agradece e até oferece um canto (limpinho) no camarote real no dia do show do “Embaixador”. “Vai, vou te esquecer. Se você já não me quer mais na sua vida; eu vou lembrar você; mas tenho que esquecer; nossos caminhos já não têm outra saída”
A MOLA E O MOLE
Na imagem desse post, Felipe Massa é socorrido depois do acidente provocado por uma mola que escapou do carro de Rubinho e bateu em sua cabeça durante o Grande Prêmio da Hungria de 2009..Depois do acidente, Massa nunca mais foi o mesmo. Algo muito “parecido” com a “mola do Gaeco”, que bateu na cabeça de José Eduardo durante o Grande Prêmio Guaíra de 2020. Ontem tem uma mola tem um mole. E sobram pastosos.
A coluna “Por trás das Cortinas” é dedicada exclusivamente aos leitores e seguidores de Guaíra (SP), terra natal do autor radicado em Brasília (DF) desde 1998.