“Nenhum homem merece uma confiança ilimitada - na melhor das hipóteses, a sua traição espera uma tentação suficiente”. A frase ferina do jornalista e crítico americano Henry Louis Mencken (1880 - 1956) parece se encaixar com impressionante precisão aos atuais movimentos do filho de Dona Edna. Ao ignorar aquilo que ele mesmo cativou, José Eduardo trai a confiança dos guairenses que acreditam em sua inocência. Sim, há um estelionato afetivo concreto na decisão de José Eduardo em não decidir. Em 2021, os seis mil votos em Edvaldo Morais ainda sob o cheiro de enxofre do escândalo do Gaeco, mostraram que muita gente continuava acreditando na inocência de José Eduardo. Em todas as suas manifestações pós-queda, o ex-prefeito falou em “injustiça da justiça”. Aquilo comoveu parte importante do eleitorado, que decidiu “absolvê-lo”, separando-o do resto dos envolvidos, considerados culpados, desde sempre, pela população. Diante da tentação (para ele suficiente) em viver uma vida pequeno-burguesa, regada a viagens, boa mesa e bons lucros , José Eduardo deixa escapar, para tristeza de muitos – incluindo este escriba - que não merece uma confiança ilimitada. Dá para imaginar o que se passa pela cabeça do eleitor comum, que sequer precisa de alguma sofisticação intelectual para entender a decepção: “de que adianta defender o José Eduardo nas rodinhas de amigos se ele não está nem aí para a vida pública? Se ele só quer saber de comer, rezar e amar”?
O REVÓLVER, A ONÇA E O AMIGO
Não é difícil compreender a dor do que aqui está escrito. Quem gostaria, em sã consciência, de assistir, sem poder fazer nada, ver um homem público adorado se resignar com seu destino trágico? “Querer viver uma vida mais tranquila, longe dos holofotes e dos problemas da vida pública” não é desculpa para quem “se considera” uma liderança histórica mal disfarçando a falsa modéstia. Quando, em 2021, me vi obrigado a interceder de forma enérgica para que José Eduardo gravasse um vídeo “apoiando” Edvaldo Morais nas suplementares daquele ano, já era possível perscrutar os abismos e vales desconhecidos do lado escuro do filho de Dona Edna. A contragosto e enciumado pelo slogan de campanha que qualificava Edvaldo como “o prefeito mais rápido da história”, José Eduardo concordou em ir até a casa do “companheiro de grupo”. Gravou um vídeo contido, tenso, que entregava o sorriso forçado e o desconforto de estar ali. A cena, gravada e usada na campanha mesmo assim, desmoronaria no exato dia da eleição, quando a ex-primeira-dama Elaine Olivério festejava nas redes sociais ter chegado ao Tocantins, onde José Eduardo tem uma propriedade rural. Era Elaine, também enciumada com o protagonismo de Vitória Morais no Fundo Social de Solidariedade; dizendo, com a sutileza de um tsunami : “não votamos em Edvaldo”. José Eduardo não fez nada para impedí-la. Humilhava-se ali, em praça pública e para todo mundo ver, o mesmo Edvaldo que num episódio dantesco da campanha de 2020, dirigiu-se, armado, para as proximidades da casa de José Eduardo para proteger o amigo de um adversário que, insatisfeito com revelações da campanha, ameaçava o filho de Dona Edna. É preciso, para o bem de toda a verdade, doa a quem doer, desmitificar certos “atributos” do bom-mocismo de José Eduardo. Não votar em Edvaldo com a desculpa de que foi viajar no mesmo dia da eleição não é só inaceitável. É, sobretudo, rude – muito rude - com um amigo que foi levado ao sacrifício só para que fosse mantida uma base unida mirando 2024. Edvaldo e a família, na simplicidade de seus costumes, aprendiam ali, que, como dito por Mencken, que “nenhum homem (mesmo amigo) merece confiança ilimitada”. Principalmente se, antes de mais nada, for amigo da onça.
O que tem sido revelado aqui vai mudar “a decisão de não decidir” de José Eduardo? Difícil saber. E aqui não é essa a intenção primeira. Ao revelar os bastidores da sacristia eduardista, esta coluna age fora das quatro linhas do marketing político já que, frustrado esse caminho, sente-se livre para atuar de acordo com as mais legítimas origens deste contador de histórias que nunca pediu a ninguém (e vai continuar não pedindo) para afastar as cortinas e mostrar o que acontece por trás delas. Talvez seja por isso que na noite abafada de 22 de dezembro, no Solar dos Lelis, quando este jornalista, acompanhado da esposa, tentava convencer José Eduardo de sua responsabilidade histórica, a ausência da ex-primeira-dama Elaine Olivério dissesse tanto. Constrangido, José Eduardo tentou explicar que Elaine não pôde comparecer porque havia “machucado o pé”. Havia até uma foto pronta nesse sentido, no celular de José Eduardo. Ele chegou a mostrá-la. Não me convenceu. O que me parece mais verossímil é que a ex-primeira-dama, não tão experimentada na vida pública como José Eduardo, nunca engoliu o fato de existir um jornalista indomável disposto a dizer ao marido o que ele precisa ouvir. E não o que ele deseja, como faz a imensa maioria dos guairenses.
PARA QUE SERVEM OS DEDOS DOS HOMENS SANTOS?
Eu não devia, mas vou ajudar. De vez em quando sou acometido de “instantes de bondade”, de “momentos de altruísmo”. Assim informo a quem imagina me vincular ao mercenarismo que a “tática” já foi usada, sem nenhum sucesso, um zilhão de vezes para tentar desqualificar o que escrevo, ao longo dos últimos trinta anos. Sem nenhum sucesso. Do alto da minha “ignorância”, acho, na maior “inocência”, que seria mais inteligente tentarem provar que o que aqui revelo é “mentira”. Nunca apareceu uma viva alma capaz disso. Talvez e certamente seja porque a verdade, essa senhora inconveniente, seja fluida e capaz de escapar por entre os dedos até dos mais santos homens.
Na imagem deste post, o criado mudo do quarto onde José Eduardo dorme com Elaine todos os dias na residência do casal no bairro Palmares. O estilo renascentista da mobília revela que o bom gosto de Dona Edna consegue influenciar a decoração até mesmo do ninho de amor do filho. Mas o que realmente interessa repousa sobre o criado. São as obras atualmente lidas por José Eduardo. De cima para baixo, dispenso o primeiro e o terceiro livros. São obras de autoajuda que não me seduzem. Entre Napoelon Hill e Abílio Diniz, prefiro, mil vezes, Dostoiévski e Euclides da Cunha. Ato contínuo, o tesouro está no segundo e quarto livros. São clássicos. O quarto, a Arte da Guerra, de Sun Tzu, é altamente recomendável para qualquer homem público e José Eduardo faz bem em lê-lo. Mas é sobre o segundo, “O Príncipe”, de Maquiavel, que repousa o céu e o inferno vivido pelo filho de Dona Edna. As regras do poder elencadas pelo florentino Maquiavel em seu “Príncipe” são atemporais e precisam ser conhecidas por todos que desejam, de fato, exercer um papel histórico na vida pública. O problema está na ausência de uma quinta obra sobre o criado não tão mudo de José Eduardo. Como já dito por aqui, falta ao marido de Elaine a leitura de outro “Príncipe”, o “Pequeno”, de Saint-Exupéry. Não adianta entender que, em alguns casos, os fins justificam os meios; se não há a compreensão de que nessa vida, todos nós, sem exceção, somos responsáveis por aquilo que cativamos. O criado “falante” de José Eduardo diz muito sobre o que falta ao filho de Dona Edna.
A coluna “Por trás das Cortinas” é dedicada exclusivamente aos leitores e seguidores de Guaíra (SP), terra natal do autor.