O domingo pode ser o pior dos dias para quem na terra imagina não estar sendo obsevardo do céu. E eu não estou falando de Deus. Mas sim da tecnologia satelital. É assim que se releva hoje, antes do tradicional almoço em família, mais uma vez por aqui, que a sensação de impunidade, de tão arraigada na mente e nos atos de quem se considera acima de tudo, inclusive da lei; pode ser experimentada, no limite do escárnio, também de véspera. Imagens capturadas pelo serviço Google Hearth no dia 10 de novembro de 2022, quando o loteador Antonio Manoel da Silva Júnior já exercia o cargo de prefeito-tampão eleito um ano antes, nas suplementares de 2021; abriu, sem a menor cerimônia e sem nenhum alvará, ruas e quadras do loteamento Residencial Maria Luíza (sim, aquele mesmo afagado com o infame afrouxamento de diretrizes) muitos meses antes que os órgãos de controle locais (não por acaso sob seu próprio comando como chefe do executivo) autorizassem a obra. Não, você não leu errado. É isso mesmo: como se não bastasse o afrouxamento acintoso das diretrizes de exigências revelado por esta coluna em artigo anterior, Antonio Manoel Loteador, sempre com apoio providencial da mão amiga de Antonio Manoel Prefeito, como se a cidade fosse um curral de seus negócios, como se o município fosse um de seus feudos; colocou máquinas para abrir ruas e quadras de um de seus vários empreendimentos imobiliários bem antes que a prefeitura (sob seu comando, é claro) expedisse, por meio do Departamento de Esgoto e Água de Guaíra (na época chefiado por ninguém menos que seu coordenador de campanha) e pelo Departamento de Obras , os alvarás de autorização. Não é lindo isso? Não é muito lindo tudo isso? Não é espetacular isso? No município das maravilhas e onde as palavras não têm curva, tudo é possível. E puro. Muito puro.
“QUE DIFERENÇA FAZ? EU SOU O PREFEITO MESMO!”
No dia 10 de novembro de 2022, conforme imagem reproduzida neste post, o satélite a serviço da bigtech Google Hearth, que mapeia, do espaço, toda a geografia da Terra para desespero de todos aqueles que desejam esconder o malfeito, flagrou Antonio Manoel abrindo ruas e demarcando quadras de seu loteamento. O diabo da coisa toda é que os alvarás de construção só foram expedidos TRÊS MESES DEPOIS pelo Departamento de Obras (06/02/2023) e - nada é tão ruim que não possa ficar péssimo - OITO MESES DEPOIS pelo Departamento de Água e Esgoto (17/07/2023). É ou não é um faroeste caboclo? Certo de sua própria impunidade e pouco se lixando “ homens da lei “ como o Ministério Público, o prefeito da cidade, na condição conflituosa de loteador da mesma cidade, vê-se no “direito” (mas pode me chamar de escárnio) de começar a construir um loteamento sem autorização dos órgãos reguladores do município (governado por ele mesmo). É a clássica e trágica “sensação de impunidade na véspera”. “Que diferença faz? Eu sou o prefeito mesmo!”.
O PÚBLICO, O PRIVADO E A CONIVÊNCIA IMORAL E CRIMINOSA
As revelações que vem sendo feitas pela coluna, robustamente embasadas em documentos e imagens, grande parte deles já encaminhados ao MP em forma de denúncia pela coragem quase solitária do vereador Edvaldo Morais (o único que parece não temer a cara feia do prefeito) , dizem muito sobre o atual estado das coisas em Guaíra (SP), terra natal e distante deste jornalista que escreve, diariamente, direto de Brasília (DF). O patrimonialismo, a confusão entre o público e privado, o oportunismo e a conduta continuada de passar por cima da lei em benefício próprio só encontram terreno fértil em localidades onde a conivência imoral e criminosa é um meio de vida. Assim, um prefeito-loteador só abre loteamentos sem alvará e certo da impunidade, porque há órgãos de controle que, coniventes, permitem, sabe-se lá por conta de quantos e insondáveis interesses, que ele assim o faça. Assim também, um chefe de governo que se comporta como dono da cidade, como se fosse um senhor feudal acima de tudo e de todos, só se "apresenta" dessa forma porque há conivência imoral da imprensa. Sim, uma imprensa interessada em uma parte do butim público, mesmo que, para todos os efeitos, o faz-me-ir seja pago “legalmente” por meio das empresas privadas do prefeito-loteador em forma de patrocínio, anúncios publicitários ou outras sinecuras. Um mandatário que faz o que quer de seu projeto de poder, avançando sobre áreas públicas e de preservação ambiental para favorecer seus empreendimentos particulares; que, no comando da prefeitura, afrouxa diretrizes para aumentar a margem de lucros de seus loteamentos; e que inicia a construção de novos empreendimentos a hora que bem entende e sem nenhum alvará, só o faz com tanta desenvoltura porque não existe, no legislativo, uma oposição combativa (salvo raríssimas exceções como é o caso de Edvaldo Morais ) capaz de frear seu ímpeto feudal. Ao fim e ao cabo, diante da lei, do julgamento da história e,sim, das urnas, todos serão responsabilizados. Quem viver, verá.
"BATOM NA CUECA"
Na imagem deste post, o batom na cueca: foto satelital flagra loteamento particular do prefeito sendo aberto (seta amarela no meio da imagem) muitos meses antes da prefeitura (comandada por ele mesmo) expedir os alvarás de autorização. Em cima e embaixo da mesma foto, as setas (também amarelas) apontam a data em que a imagem foi feita: 10 de novembro de 2022. O loteamento só seria autorizado no ano seguinte.