O diabo é que ele deu de cara com um jornalista que já enfrentou a fúria de coronéis e de conglomerados econômicos para não abrir mão do direito de informar
Falecido em agosto de 2015, o médico psiquiatra Içami Tiba ensinava: “criar uma criança é fácil, basta satisfazer-lhe as vontades. Educar é trabalhoso”. Cabe então a pergunta: o ex-prefeito Sérgio de Mello criou ou educou o herdeiro que leva seu nome? Há controvérsias. O moleque, lá do sul, onde vive tal qual a música de Lulu Santos – “como uma onda no mar” – achou, talvez ainda contaminado pela experiência de ter sido filho de mandatário por duas vezes (a segunda delas, proporcionada por este que vos escreve) , que poderia pressionar a coluna sem consequências. Como nos mostram as distintas leis da física, toda ação envolve uma reação. Até quando Sérgio de Mello Júnior está pegando uma onda na Praia do Campeche enquanto o pai luta para provar a inocência nos tribunais, as leis da física estão presentes. Ou ela pega a onda ou ele toma toco. Hoje é dia de tomar toco. Assim sendo e sendo assim, vamos lá. “Como uma onda no mar”.
“ONDE ESTÁ WALLY”?
Quis o “bravo” menino que se diz homem feito, implicar com artigo aqui publicado (você pode conferí-lo logo abaixo) em que mostrei Sérgio Pai brincando com os netos na Praia do Campeche, em Florianópolis (SC). A foto foi publicada pelo próprio Sérgio e até a manhã desta quinta-feira, por volta das 7h, estava lá, intacta, na timeline do ex-prefeito. Quando reproduzi a imagem como alegoria do artigo tomei o cuidado legal de não mostrar o rosto das crianças, algo que não foi feito pelo próprio avô (e nem deveria, já que ao publicar a brincadeira na praia, Sérgio evocou uma bela canção de Milton Nascimento festejando aquele momento idílico com os netos). O que fiz: cortei a imagem na altura dos ângulos em que apareciam os rostos de duas delas e preservei o restante em que só a fisionomia do prefeito aparece, junto de duas crianças de costas, sem nenhuma possibilidade visual de identificação. A não ser recorrer aos milagres de alguma deusa do curioso universo esotérico muito presente nos luais de desocupados à beira-mar. Ainda sim, Sérgio Júnior, “exigiu”, em contato mal educado feito via Messenger (ele não é , como o pai, meu “amigo” neste plataforma) , montado na arrogância própria de quem foi criado na maçã raspada, que este escriba “retirasse as fotos” pois a imagem estava “expondo” seus filhos. Tentei invocar, com incenso da melhor qualidade, Durga, mãe de Ganesha, Kartiqueia, Sarasvati e Lakshmi. A deusa hindu caçadora de demônios bem que tentou mas, apesar de seu “poder” (só menor que o de filhos de ex-prefeitos) não conseguiu descobrir a identidade daqueles corpos onde o máximo que se conseguia ver eram cabelos ao vento. “Onde está Wally”? Se nem Durga conseguiu ver , o que se dirá de pobres diabos leitores que só se lembrariam, quando muito, do nariz proeminente de Sérgio Pai na foto? Talvez Sigmund possa iluminar este mistério. É o que se verá no próximo tópico, sem recortes ou tarjas.
FREUD EXPLICA
Sigmund Freud, o austríaco pai da psicanálise ensinava que “há uma rivalidade do filho contra o seu próprio pai”. Segundo Freud, “o filho acredita que existe uma onipotência patriarcal que fere gravemente tanto ele quanto a sua mãe”. Assim, ainda de acordo com Sigmund, “com base nisso, o filho mira o pai a fim de subjugá-lo”. Isso acontece – ainda de acordo com Freud - “também porque o filho cria uma relação quase que incestuosa com a própria mãe”. Hummmm....Hummm... Na imagem que feriu as suscetibilidades de Sérgio Júnior não se vê o rosto de nenhum de seus filhos mas chega a ofuscar o que ali grita: um avô dando aos netos o carinho que não teve tempo, por conta das obrigações da vida pública, de dedicar aos próprios filhos. O que machuca o “coração sensível” do surfista não é o fato dos filhos menores aparecerem numa foto brincando felizes com o avô numa praia idílica. E sim o fato concreto daquela foto lembrar-lhe o quanto a vida pública tomou dele a convivência com o pai. O diabo da coisa toda é que isso não é um problema meu. Se jornalistas fossem se preocupar com os dramas da alma de famílias cindidas pelo peso da vida pública, não deveriam ficar na profissão. O exercício da vida pública, que cada um escolhe porque quer, em livre arbítrio, exige dedicação, noites sem dormir, risco altíssimo de demandas judiciais, casamentos desfeitos, imensas perdas financeiras e, sim, ausência líquida e certa. O troço é complicado mesmo e não é para amadores. Se você quer pegar onda, viva na beira da praia. Se você quiser fazer história, viva na beira do abismo.
A CONCESSÃO E A ESTUPIDEZ
Consultei minha dedicada assessoria jurídica sobre o caso, embora já conhecesse o assunto a fundo e fui aconselhado a comprar a briga com o filho mimado do ex-prefeito. Porém minha esposa, se colocando no lugar da mulher do dito cujo, pediu, mesmo também sabendo que a imagem utilizada é perfeitamente legal , que eu fizesse uma concessão. Meu coração, “mole como uma bigorna”, resolveu ajudar. Preservando o artigo e todo seu texto, fiz então, “comovido com a dor do surfista”, mais um recorte na foto. Agora só aparece na imagem Sérgio Pai e a areia da Praia do Campeche. A concessão altruísta que este “manteiga derretida” fez , diz muito sobre a estupidez de “surfistas corajosos”. Mais gente (muito mais gente) vai ler o artigo, mais gente vai comentar a publicação e mais gente vai passar a seguir o que aqui é revelado diariamente. A “fina inteligência” do menino de Florianópolis, além de me garantir publicidade gratuita, também mostrou que faltou à Selma um esforço maior para convencer o marido de uma rinoplastia.”Como uma onda no mar...Como uma onda no mar...”.
O PODER DE UMA IMAGEM
Na imagem deste post, Kennedy e o filho “John-John” embaixo da escrivaninha de trabalho do presidente no Salão Oval da Casa Branca na icônica foto que entrou para a história. Se Sérgio Júnior conseguisse enxergar além do mundinho da parafina, talvez compreendesse o quanto uma imagem pode ser poderosa para Sérgio Pai. Falta combinar com Freud, é claro...
A coluna “Por trás das Cortinas” é dedicada exclusivamente aos leitores e seguidores de Guaíra (SP), terra natal do autor. Muito embora, por vezes, também seja lida por surfistas de Florianópolis (SC).