Em períodos de guerra, a primeira vítima costuma ser a verdade. E o que são períodos eleitorais senão tempos de "guerra de versões" que tentam beneficiar este ou aquele grupo político? O diabo é que, para o bem de quem tem cérebro, sabe-se, desde tempos imemoriais que a verdade é sempre construída a partir de três premissas: a sua versão, a versão dos outros e os fatos. Nus e crus. A mentira e suas névoas cafajestes costumam dar uma volta inteira ao mundo antes mesmo de a verdade ter oportunidade de se vestir. É nesse sentido que em Guaíra (SP), “terra de sol, de luz e de malandros”, sobram picaretagens e mau jornalismo em nome de pequenos trocados.
A MANCHETE MALANDRA
Em uma cidade já em pé de guerra por conta das municipais de 2024, governada por um mandatário-tampão e que passou por duas eleições em menos de quatro anos depois que o prefeito e vice reeleitos em 2020 caíram, acusados de formação de quadrilha; é natural e previsível que, diante de emoções descontroladas, vexames públicos, julgamentos morais e vergonhas coletivas, aproveitadores em busca de esmolas se coloquem à disposição para brincar de fazedores de “notícia”. É nesse contexto trágico que circula nas redes sociais uma manchete malandra que crava, sem a menor cerimônia e na maior desfaçatez: “Renato Moreira é Inocentado”. Mentira. Mentira cabeluda. Mentira cafajeste. O ex-vice-prefeito, acusado pelo Ministério Público de chefiar um esquema de desvio de recursos durante o Governo José Eduardo, não foi absolvido coisa nenhuma, como sugere, “pura e imaculada”, a manchete sem vergonha. Fosse séria – o que nem de perto de é – a manchete faria justiça se fosse assim construída: “RENATO MOREIRA É INOCENTADO DENTRO DA PREFEITURA MAS AÇÃO PENAL QUE PODE LEVÁ-LO À CADEIA CONTINUA CORRENDO NA JUSTIÇA COMUM”. Isso é jornalismo. Isso é informação comprometida com a verdade. Mas,porém, contudo, entretanto...há mais esmolas entre o céu e a terra do que imagina nossa vã e sempre crédula filosofia. A manchete foi feita, na medida, para confundir os jecas preguiçosos, que consomem o título mas sequer passam os olhos pelo resto do texto.
O DADO CONCRETO
O dado concreto é que Moreira só foi “absolvido” em processo administrativo INTERNO (entendeu, ou terei de usar o Faber-Castell?) da própria prefeitura. Como se sabe, desde que Ramssés II veio ao mundo nas áridas terras do Egito Antigo, processos administrativos envolvendo servidores públicos (Renato é professor da rede pública), como mostram as estatísticas, raríssimas vezes – repito e desafio que se prove o contrário – raríssimas vezes dão em alguma coisa senão uma previsível acomodação de abóboras numa carroça sacolejante. Não há, nos processos administrativos internos de prefeituras, nem de longe, muito menos ainda de perto, o rigor dos fundamentos legais praticados em ações penais. Portanto, saiba você, crédulo leitor, que o ex-vice-prefeito continua respondendo, na justiça, à grave ação penal que já levou dois outros acusados, à condenação por penas de reclusão e que permanecem em liberdade enquanto recorrem. Fundamental afirmar, nesse sentido, que nem os já condenados em primeira instância, nem os outros acusados que ainda não foram sentenciados – entre os quais os próprios José Eduardo e Renato – podem ser considerados culpados antes que as eventuais sentenças condenatórias transitem em julgado. O que é inadmissível é tentar ludibriar os incautos com manchetes malandras que mostram, sobretudo, o quanto a cidade onde eu nasci vive de uma imprensa covarde , mergulhada em seus interesses mesquinhos e incapaz de dizer simplesmente a verdade. Talvez seja porque os fatos ofendam tanto quanto as mentiras agradam.
RENATO, JOSÉ E OS MALANDROS
Na imagem deste post, Renato e José Eduardo no palanque, nos tempos em que Guaíra “era 45”. Os dois respondem a processo por formação de quadrilha em ação penal movida a partir de revelações feitas em investigação do GAECO, o Grupo de Ação Especial de Combate ao Crime Organizado. Os dois não podem ser considerados culpados até que todas as eventuais sentenças condenatórias transitem em julgado. Ato contínuo, os dois também não podem ser “anunciados” como “inocentes” por sabujos malandros e iletrados.
A coluna “Por trás das Cortinas” é dedicada exclusivamente aos leitores e seguidores de Guaíra (SP), terra natal do autor.