Em ofício ao MP, Antonio Manoel recua de promessa eleitoreira deixando evidente que o marketing desonesto tem cada vez menos espaço numa sociedade informada.
Comandado por um primo do ex-prefeito José Eduardo Coscrato Lelis, o Ministério Público guairense, desde que a interpretação draconiana que fez da lei cassando o registro da candidatura do parente por conta do que teria sido o favorecimento eleitoral pela cobertura de campanha de um jornal local; tornou-se o muro de todas as lamentações da cena política do município. O mantra é óbvio. “Se o MP fez o que fez com o José Eduardo, também fará com qualquer outro suspeito de agir fora do regramento legal”. Num próximo artigo explicaremos que o que verdadeiramente derrubou o filho de Dona Edna não foi a entrevista da matriarca a um periódico mas sim o escândalo do Gaeco. Por enquanto, fiquemos hoje no altar de todas as denúncias.
O DOCUMENTO
O ofício número 39 da Diretoria de Justiça do município, assinado, a contragosto, pelo prefeito no último e recente dia 23 de janeiro, entre outras evidências desconfortáveis para quem acha que pode muito mas na verdade não pode tudo, mostra como a “coragem” do homem cuja palavra “não faz curva” não resiste à “covardia” dos fatos. No documento, feito um roedor assustado diante da presença do gato, o filho de Dona Eliza coloca a cauda entre as pernas e recua, em fuga retumbante, da intenção de fazer de uma promessa eleitoreira uma peça de manipulação dos incautos. A história é conhecida, na superfície, desde novembro do ano passado e já foi objeto de acalorados debates entre comissionados aduladores e jecas opositores, mas o que interessa mesmo está por trás das cortinas, içadas aqui para deleite de quem adora ver o picadeiro em chamas.
MARKETING DESONESTO
Tudo começou, sob o pano de fundo cínico de uma suposta preocupação social – como é “fofa” e “altruísta” essa gente – no final do ano passado, quando o Governo Junão, lançando mão de um marketing tão honesto quanto uma postagem de Carlos Bolsonaro, prometeu encalacrar, em uma área institucional no meio de bairros já construídos na cidade, um novo conjunto habitacional destinado a oferecer (não é lindo?) “moradia digna para famílias vulneráveis”. A mentira tinha até nome - “Nosso sonho, Nosso Lar” - maquete eletrônica e outdoor promocional e figurou como destaque na manjada revista de “prestação de contas” da administração municipal divulgada também no final de 2023 com a transparência de uma mina de carvão. Não demorou e a mentira começou a sangrar.
A GRITA
Numa reação que deveria ter sido prevista pelas “odoriquetes” (onde tem um Chacrinha, tem uma chacrete) pagas para pintar o Governo Antonio Manoel como uma versão caipira e festeira dos Jardins do Éden, a grita foi geral. Especialmente dos moradores dos bairros que circundam a área. Não fosse a promessa uma mentira de pernas tão longas quanto as do reizinho do Shrek, até se poderia afirmar que o governo de um histórico elitista estava voltando seus olhos para os menos afortunados. Mas não é disso que se tratava. Preocupados, como pagantes de financiamentos habitacionais e também eivados (é preciso dizer, para o bem de toda a verdade) de um preconceito estrutural, com o nascimento de uma “cracolândia” no meio de bairros “normais”, os moradores foram bater às portas de quem? “Do Muro das Lamentações”, mas pode me chamar de Ministério Público. Pressionado, desde o 9 de Dezembro, a fazer com os outros o que fez com José Eduardo (não é o pau de Chico que também bate em Francisco?) , o MP foi pra cima de Antonio Manoel, o milionário “pai dos pobres guairenses” e signatário de revistas oficiais que tentam convencer os incautos locais de que eles habitam os Jardins Suspensos da Babilônia. "Nabucodonosor" foi obrigado a recuar. Diante de “Notícia de Fato” – um dos instrumentos legais de apuração do Ministério Público – enviada pelo promotor local à prefeitura , Junão, aquele mesmo cuja palavra “não faz curva”, “explicou”, para desmonte da própria mentira, que a coisa não era bem assim.
O RECUO, COM TODAS AS LETRAS E SEM A MENOR VERGONHA
Eis, a seguir, trechos impagáveis do ofício 39, elaborado pelo procurador do município , assinado por Junão e por meio do qual o prefeito confessa, sem a menor cerimônia, que o “novo conjunto habitacional”, festejado em publicações oficiais, maquetes eletrônicas, outdoors e fotos cínicas com direito até (pasme) à presença de retroescavadeiras ao fundo (como se as obras fossem de fato começar) nunca passou de uma inocente “intensão de edificar”. Abre aspas, lá pelas tantas do segundo parágrafo: “O PREFEITO APENAS ANUNCIOU A PRETENSÃO, A VONTADE, DE EDIFICAR. CONTUDO, AINDA SE ENCONTRA SOB ESTUDOS COMO, QUANDO E (a cereja do bolo mentiroso) ONDE INICIAR AS OBRAS EM DETERMINADOS BAIRROS”. Fecha aspas. Uééééééééé? Uéééééééééé? Mas não estava, segundo o “honestíssimo” marketing oficial, tudo pronto para as obras? O local já não estava escolhido como mostra, em maquete virtual, a revista de prestação de contas? O prefeito não esteve lá, acompanhado de puxa-sacos em busca de uma lasquinha eleitoreira, fazendo fotos junto do outdoor da “realização”? Segue o enterro da promessa, agora, no terceiro e mais cínico ainda parágrafo. Abre aspas, para espanto dos crédulos : “CONCLUÍDA ESTA AVALIAÇÃO PRELIMINAR, INICIADO O PROCESSO INTERNO E PUBLICADO O RESPECTIVO DECRETO ESTABELECENDO – SE CONFIRMADO – AQUELE LOCAL COMO OBJETO DE APROVAÇÃO DO DESMEMBRAMENTO PARA INTERESSE SOCIAL, AÍ SIM, CUIDARÁ DE REALIZR A REUNIÃO COM A PARTICIPAÇÃO DE CIDADÃOS, ORGÃOS E/OU ENTIDADES PÚBLICAS OU CIVIS PARA TRATAR DE QUESTÕES DE INTERESSE PÚBLICO RELEVANTE”. Uééééééééé? Uéééééééééé? Mas não tinha até foto do Junão embaixo do outdoor, com uma retroescavadeira ao fundo, “evidenciando” que a administração municipal estava pronta para realizar “nosso sonho, nosso lar”? Uééééééééé? Uéééééééééé? Mas o outdoor não trazia, com todas as letras a afirmação “o endereço do seu sonho é aqui!” ?????
OUTDOOR SUMIU E PUBLICAÇÕES NAS REDES SOCIAS FORAM APAGADAS COMO SE ISSO TIVESSE O CONDÃO DE ESCONDER A DESFAÇATEZ DA COISA TODA
Quem visita a área que “seria” destinada ao “Nosso Pesadelo, Nossa Enganação” não encontra mais lá nem outdoor, nem retroescavadeira, muito menos políticos cínicos em busca de flashes eleitoreiros. Também não se acha mais nas redes sociais do governo, das odoriquetes e de todo o esquadrão de comissionados bajuladores, nenhuma menção à realização do “projeto”. Tudo foi apagado como se isso tivesse o condão de esconder a desfaçatez da coisa toda. É um escárnio sem consequências. E assim segue, “imaculada”, a vida hipócrita, cínica e indulgente num município onde licitações da área de esportes sempre estarão “acima de qualquer suspeita” e ninguém tem culpa de nada; jecas com e sem graduação adulam um ex-presidente criminoso e genocida, a “imprensa” (ela existe em Sucupira?) não contesta nada e prefeitos-tampões “prestam contas” de projetos que sequer se sabe onde e quando serão realizados.
Na imagem deste post, em sentido horário, o ofício ao MP em que Junão admite que não existe sequer definição geográfica sobre o novo “conjunto habitacional”, páginas da revista de prestação de contas do município anunciando a “realização”, o prefeito e seus sequazes em foto junto do outdoor anunciando a “obra” e a pusilânime presença de uma retroescavadeira no enquadramento como “recurso dramático” da mentira. Não há limites para o marketing oficial desonesto.
A coluna “Por trás das Cortinas” é dedicada exclusivamente aos leitores e seguidores de Guaíra (SP), terra natal do autor.