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MAIOR ERRO DE JOSÉ EDUARDO FOI DELEGAR DE OLHOS FECHADOS

Hábito do ex-prefeito em não se envolver com o varejo da administração pública permitiu que o andar de baixo se atrevesse a brincar na lama

Maria Mandú
Por: Maria Mandú
01/02/2024 às 13h30
MAIOR ERRO DE JOSÉ EDUARDO FOI DELEGAR DE OLHOS FECHADOS
9 de Dezembro (2020), “o dia que nunca terminou”

O que gera uma interrogação inquietante é a possibilidade de José Eduardo ter lido os e-mails que o informavam da gatunagem e não ter nada feito

A delicada situação jurídica do ex-prefeito José Eduardo Coscrato Lelis, processado por “formação de quadrilha” como desdobramento dramático do “Caso GAECO”, tem um culpado principal: ele mesmo. O filho de Dona Edna não pode ser responsabilizado, como tenho dito por aqui desde o 9 de Dezembro (2020), “o dia que nunca terminou”, pela corrupção de assessores, mas sempre será julgado por ter delegado poderes de olhos fechados. José Eduardo nunca gostou do varejo. Talvez como efeito deletério das vertigens de baixa altitude experimentadas no período em que posava de gestor da FAESP em São Paulo, ele sempre se viu como um “grande executivo”, predestinado a realizar “reformas estruturantes” na administração pública na cidade que já havia sido governada pelo pai. Focou na ribalta mas se esqueceu das coxias. Contemplou o peixe mas não vigiou o gato. No caso específico, os gatunos que despachavam perto de seu gabinete. Não se sustenta a tese negacionista (conhece o termo?) de que ninguém pode ser responsabilizado pelo esquema de licitações forjadas, à luz do sol, na área de esportes. Já há duas condenações concretas sentenciadas na justiça e outras virão. Não é por outra razão que o ex-prefeito tenta se equilibrar entre o que seu carisma ainda pode render e a dura realidade de martelos de juízes esperando para fazer barulho.

 

O CALHAMAÇO E OS E-MAILS

No “9 de dezembro”, já depois de ter sido reeleito e poucos dias antes de perder o que havia conquistado nas urnas, José Eduardo, até onde se sabe, não estava na cidade. Enquanto se especulava sobre seu paradeiro, membros do primeiro escalão de seu governo – entre os quais o próprio vice-prefeito – eram levados presos com direito a desfile de camburões pelas ruas de uma Guaíra (SP) incrédula e atônita. O calhamaço de acusações do Ministério Público tinha milhares de páginas. Enquanto José Eduardo as lia em São Paulo (onde,enfim, apareceu e permaneceu até que a poeira baixasse) eu fazia o mesmo em Brasília. Os documentos, robustos e diversos, traziam um dado curioso. Em várias das páginas havia prints que mostravam o envio de e-mails dos operadores do esquema para José Eduardo. É como se os envolvidos quisessem se certificar de que, para todos os efeitos, o “prefeito sabia do que estava acontecendo”. É como se buscassem uma falsa sensação de segurança e “pertencimento”. “Estou fazendo e ele sabe”. José Eduardo não respondia aos e-mails e nem havia como confirmar se eles realmente foram lidos pelo então prefeito. Talvez seja, no limite do risco, o suficiente para que advogados caros possam arguir que José Eduardo não sabia porque não tinha a menor condição de ler tudo o que chegava à sua caixa de mensagens. Faz certo sentido. Quem, em sã consciência, pode afirmar que lê tudo que entope nossas caixas de mensagens diariamente com spams, publicidade e lixos virtuais de toda e qualquer natureza? O que não faz nenhum sentido e gera uma interrogação inquietante é a possibilidade de José Eduardo ter lido os e-mails que o informavam da gatunagem e não ter nada feito. Nesse caso José Eduardo teria, no mínimo, prevaricado. Trata-se ,como se vê, de uma situação complexa, que envolve uma miríade de suposições, uma cordilheira de dúvidas e apenas e tão somente uma certeza: José Eduardo deixou a coisa correr solta. Mesmo que ele, como aqui sempre defendi, não tenha se locupletado com parte do butim.

 

NÃO SE IMAGINA, POR EXEMPLO, UM SÉRGIO DE MELLO FECHANDO OS OLHOS PARA COISAS DO TIPO

A melhor tese para José Eduardo (e nem se trata aqui do que a defesa do ex-prefeito vem construindo, já que, por orientação do próprio, afirma-se que tudo não passou de erros processuais sem dolo ) e que talvez o inocentaria mas jamais pouparia os outros envolvidos é de que ele, de fato, não sabia de nada, enquanto o porão do navio era carcomido por roedores. O dado concreto é que, a título de exemplo, não se imagina um Sérgio de Mello fechando os olhos para coisas do tipo ou, no mínimo, negligenciando a vigilância que todo governante deve praticar. Para quem não se lembra, o hoje apagado ex-prefeito petista, que vem, para o bem de toda verdade, colecionando vitórias sequenciais na justiça e mostrando que foi vítima, ao longo de seus anos no poder, de preconceito elitista e da prática de “lawfare”; não titubeava em cavar fundo para expor as vísceras da corrupção instalada no município. Foi assim que, enfrentando a fúria da maçonaria (da qual José Eduardo faz parte), colocou no olho da rua, ainda durante o primeiro de seus dois mandatos, um membro da vetusta e hipócrita instituição e servidor “graduado” da administração pública flagrado num escândalo milionário de desvio de recursos no sempre assaltado Departamento de Esgoto e Água da Cidade, o Deágua. Numa comparação fria mas efetiva e que diz muito sobre a “menos nobre” das características do filho de Dona Edna , enquanto José Eduardo, o “bom moço”, preferiu não mexer no vespeiro de amigos envolvidos com ilicitudes; Sérgio de Mello, “o homem mau”, nem piscou ao mandar investigar tudo e todos e dar publicidade à descoberta do escândalo no Deágua e que teria como capo um até então “nome respeitado” da sociedade local, membro da maçonaria e ungido ao poder por ninguém menos que seu próprio vice-prefeito à época.

 

O CERCO AO PALÁCIO

Quem delega de olhos fechados como se a administração pública fosse uma fábula infantil, pode acabar se vendo sob o cerco de viaturas policiais ao palácio de governo. Quem administra com a mão no coldre e desconfia da própria sombra, tem melhores chances de não ser “traído” por amigos famintos. Na imagem deste post viaturas da polícia cercam a prefeitura de Guaíra no fatídico 9 de Dezembro de 2020, o “Dia que Nunca Terminou” e que, pelo visto e pela falta de coragem, continuará sem epílogo. Para o orgasmo de Antonio Manoel, o “surfista” de ondas perfeitas numa praia sem tubarões. A não ser ele mesmo.

 

A coluna “Por trás das Cortinas” é dedicada exclusivamente aos leitores e seguidores de Guaíra (SP), terra natal do autor.

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Esse é o texto para definição dessa coluna no perfil pessoal de rede social do Jornalista Conrado Vitali, que atualmente reside e trabalha em Brasília - DF.
Aqui serão reproduzidos seus textos na íntegra, sendo que tal reprodução está previamente autorizada pelo autor.
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