Samuel Langhorne Clemens (1835 - 1910), mais conhecido como “Mark Twain”, foi um escritor norte-americano e um dos autores mais importantes do oeste americano. Para ele, “cada um de nós é uma lua e tem um lado escuro que nunca mostra a ninguém”. Sim, mesmo os bons moços têm seu “dark side”. O diabo é que essa história de nunca mostrar a ninguém nem sempre dá certo. Não é por outra razão (atire a primeira quem conseguir) que surpreende e decepciona a guinada à extrema direita de José Eduardo, o outrora jovem político forjado nas hostes sociais democratas que remontam a homens públicos memoráveis como Waldemar Chubaci, Fábio Talarico e até seu próprio pai, Adnaer de Barros Lelis. Da mesma forma que me parece inimaginável ver um Jorge Domingos, o tucano filho de Fábio, babando ovo para um genocida golpista; até bem pouco tempo se mostrava impensável, mesmo diante dos mais sórdidos interesses econômicos do agro, ver José Eduardo perfilado ao lado do que há de mais detestável e abjeto na política nacional. Para quem tem origem num grupo que festejava, com razão e respeito, nomes de gigantes como Franco Montoro e Mário Covas, terminar bajulando o clã Bolsonaro revela fraqueza, descompromisso com a história social democrata e oportunismo pouco inteligente. Ao se filiar ao PL do mensaleiro Waldemar da Costa Neto e do inelegível, golpista, genocida, mercador de joias roubadas e pária internacional Jair Bolsonaro (futuro presidiário); José Eduardo, reú em processo aparentemente injusto por corrupção, rifa sua reputação , compromete o discurso contra o que seria o Golpe do 9 Dezembro e abre uma avenida para o prejulgamento dos magistrados que analisarão seu caso.
ONDE JOSÉ EDUARDO ERRA E ERRA MUITO
Para todo e qualquer efeito, já é possível concluir, para grande decepção de muitos e de tantos outros; que José Eduardo é muito mais um fazendeiro interessado nos próprios lucros – custe o que que custar - do que um homem público eivado de coragem para enfrentar as adversidades inerentes à ribalta política. Ao se envolver no jogo suicida de se alinhar a um ex-presidente responsável pela morte de pelo menos 400 mil brasileiros durante a pandemia e pela fracassada tentativa de golpe de estado do 8 de janeiro, o filho de Dona Edna rasga sua biografia num momento em que mais precisava ficar ao lado do estado democrático de direito e dos princípios constitucionais. Mesmo tendo sido vítima de controversa ação do Ministério Público que desaguou no seu impedimento; mesmo diante de evidências de que não teria participado do butim escandaloso envolvendo assessores próximos, inclusive seu vice-prefeito à época; mesmo no olho do furacão do que parece ter sido um golpe institucional orquestrado para arrancá-lo do poder, José Eduardo decide, para espanto de qualquer racionalidade, comemorar uma pretensa “proximidade” de nomes desprezíveis como Eduardo Bolsonaro, com quem o ex-prefeito pretende se encontrar nos próximos dias. Sim, José Eduardo, perseguido por um sistema marcado por vícios ilegais e inconstitucionais que podem levá-lo à cadeia, decide, nesta exata situação, alinhar-se, pasme, a quem mais ataca e despreza as instituições republicanas que poderiam livrá-lo de uma condenação. É de imaginar, com muita preocupação, os magistrados que irão julgar a ações em que José Eduardo é réu por corrupção, vendo o filho de Dona Edna em fotos abraçado ao Clã Bolsonaro, cujos pai e filhos atacaram sistematicamente a justiça , a constituição, juízes, magistrados e ministros da suprema corte nos últimos anos. De duas, uma: ou José Eduardo simplesmente enlouqueceu ou o filho de Dona Edna estaria apenas despindo-se da pele de bom moço e finalmente assumindo, próximo dos 60 anos, aquilo que sempre teria sido e procurou esconder. Um menino mimado, criado na maçã raspada e num ambiente tão conservador quanto predatório, que prefere os prazeres de uma vida pequeno-burguesa, regada a vinhos, viagens e sexo , do que os compromissos nem sempre agradáveis da luta política, da perseverança pública e da crença nos verdadeiros princípios republicanos.
A covardia de José Eduardo, materializada na adesão tardia e estúpida ao bolsonarismo e no adiamento sem fim de sua “decisão” em ser ou não candidato novamente, não é exclusiva. Ela diz muito sobre “os outros covardes”. Velhos, cansados e sem rumo, os próceres do que se convencionou chamar de grupo “eduardista” (formado, em sua maioria, por fundadores da antiga coligação conservadora “União e Progresso”) também se acovardaram. Sabem, no fundo, que a demora de José Eduardo pode comprometer todo o grupo (ou o que restou dele). Mas, mesmo assim, se submetem ao calendário “kamikaze” do filho de Dona Edna. Mas, mesmo assim, se curvam diante do egoísmo de um José Eduardo que deseja levar a decisão às fronteiras do abismo para, no último momento, abandonar todos à própria sorte enquanto um Junão focado e com as chaves do cofre na mão surfa, soberano, nas ondas de uma gestão que, apesar dos escândalos no Deágua e na Assistência Social, tem colhido bons resultados práticos em diferentes frentes administrativas. Trata-se do medo dentro do medo. Trata-se da covardia em camadas. José Eduardo, que tem medo de uma condenação em primeira instância ainda antes das eleições, adia seu “veredito” com medo do veredito da justiça. Seus “companheiros”, com medo de não disporem de nenhum outro nome cacifado para substituir José Eduardo, aceitam o jogo e se acovardam juntos. Talvez porque, a bem de toda a verdade, a única opção seja morrerem afogados. Todos abraçados.
O ENCOLHIMENTO MORAL DE JOSÉ EDUARDO
Na imagem deste post, Franco Montoro e Mário Covas, gigantes da redemocratização do Brasil que inspiraram as origens sociais democratas de partidos como o PSDB, antiga “casa” de José Eduardo e sigla que abriga até hoje nomes como o do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. É tão surreal quanto inacreditável ver o filho de Dona Edna se apequenar, perto da terceira idade, ao filiar-se ao ultraconservador PL e bajular nomes abjetos como Jair Bolsonaro , símbolo do neofascismo brasileiro, criminoso, genocida e pior presidente da história da república brasileira. Ao juntar-se a nomes desprezíveis como Valdemar da Costa Neto, José Eduardo dá o “exemplo” de como destruir, “com mérito” , a própria história. Quando mais precisava mostrar-se corajoso e à altura do que a história esperava dele, José Eduardo escolheu a porta dos fundos da política, justamente a que leva, quase sempre, ao encolhimento moral. Com o perdão do trocadilho, a decadência é a mais “democrática” das estradas, frequentada, especialmente, por homens públicos que perderam a mão enquanto tentavam se esconder das próprias responsabilidades. Está sempre cheia de gente que diminuiu de tamanho.
Conrado Vitali,54, guairense radicado em Brasília (DF) desde 1998, é jornalista e political marketer, tendo sido vitorioso em várias campanhas eleitorais que coordenou em sua terra natal (Guaíra-SP).